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domingo, 25 de abril de 2010

...E DEPOIS DO ADEUS...

…”e depois do adeus”…
aceitei uma “grândola vila morena”!...

…entretanto:
hipotecaram-me o passado.
Iludiram-me o presente.
roubaram-me o futuro.

entre cravos e promessas
em troca dum passado abandonado,
tive um presente envenenado,
com um país com futuro adiado.

agora, relembro sempre
essa madrugada mágica
que se transformou
em democracia frágil
e constante cleptocracia trágica.
neste país que ruiu…

hoje pergunto-me:
- onde está a grândola canção
que em abril o povo uniu?...


eduardo roseira
  vila do conde
   25/Abril/2010

memória

as manhãs tinham um hálito agradável, um odor a verde e a feno, terra húmida mas serena, impávidos insectos num repouso de folhas e caules e teimosas raízes que subiam árvores e muros e paredes onde viçosos musgos escondiam experiências, instintos e vidas trazidas por ventos brancos e alimentadas por chuvas sem branco. terra revolta, à margem dos canteiros floridos, feridas com sulcos de carruagens, rodas e flores, ouro de sol, prata de fios-d'-água, beijos de saudades, beijos-em-flor, pedras nuas expostas à luz, dispostas a tudo.

do mar se via a terra.

subíamos a ladeira descalça do monte, crepitando inocentes passadas rumo a um previsto e desejado desconhecido. haviam esperanças nas meninas e nos olhos, esbugalhados calhaus, saltitões quietos, palavras sem nome, gritos de silêncio em canto alto; desunidos ramos secos, pasmo espasmo de mãos agarradas à terra.

da terra se via o mar.

ondas, espuma, areia nos cabelos, seiva negra de tão pura sujidade. navios -quem os inventou?- traziam maresias com memórias de nevoeiros descobertos, gelos derretidos em fogo, quentes frios arrepios; infinita saliva.

arremessados paus, galhos de velas desfeitas galgavam margens de asfalto, botes de raiva afundavam águas onde nenhuma caravela nadara, nenhum incauto marinheiro guerreara; paraíso do peixe, sombra do risco, subterfúgio da alma. gaivotas a picar a pele do sonho, vistes?

sim, também nasciam ondas de cravos vermelhos de insuspeitas fontes, promessas de ventos em mudança, um riso sorriso nas palmas das mãos, armas floridas carregando costas nuas, bandeiras desfraldando a liberdade do vento; um rio de gente a caminho.

e o rio unia terra e mar.

***

vieram carros do combate, sem combater o futuro, arrasado o passado, vieram tantos e tantas, anónimas vozes e gritavam, expeliam o silêncio dos corajosos, repeliam a força à força de palavras como estas: que nojo vos turvara a mente?

que carinho nos transformou em gente?

ai!, quem souber desenhar almas que conte! que digam a verdade mentindo, mintam dizendo, enganem a memória, enterrem a história; o mundo vive para além disso. embrulhem as alegres lágrimas em sacos dos vossos lixos; rompidos, incessantemente rompidos, desaguarão os limites da imagem: recordação, tu nunca mentes!

que recordação vos magoou, ó gentes?

voltaram todos do monte, acorreram das serras e dos vales dos vossos sonhos, vieram voando em nuvens de desejo, trouxeram a morte e o beijo, carregaram o espinho e a rosa, acordaram o trovão e a corda, redes, pescadores, rezes, fomes a cheirar ao pão; amassaram os caminhos, corpos pequeninos e passarinhos, abutres também: se a presa é oferecida que mais vos falta para a festa?

e depois do adeus, da solene despedida do morto anunciado, partíamos, ai!, suprema alegria voar o barro, dissipar o catarro, esticar o torpor, matar, sim, matar o ditador!

que morte vos mudou, gente?

sem medos, povos das selvas montes serras rios mares, para além do crime, dizei-me:

que falso carinho vos devolveu a crença?

***

nómadas do esquecimento.

sobre as águas do inferno lavais as lembranças e escolheis o fogo do paraíso para festejar o esquecimento com que suportais a vida: até quando? homéricos poemas à laia de discurso, palavreado belo do engano, mística de cómodo olhar, esbracejar da lassidão; como é breve o tempo que há-de vir, como inutilizastes a memória!

sedentários do nada!

acordávamos felizes. então, sempre que o mar nos trazia um naufrágio de esperanças, acorriamos às areias em busca do remoinho; agora, destruída a caixa de Pandora, afundais-vos em terra solta e das ondas fizestes sepulcros. e com cruzes desenhais madeira.

carpinteiros do artifício!

esquecestes as horas da boa-espera, as madrugadas a fio, as auroras da navalha. esquecestes igualmente as praias e as rochas e as maresias; seguis caranguejos a caminho da solidão. Narcisos sem rumo, espelhos falsificados, anúncios da desgraça.

construtores da armadilha!

longe, muito longe do que é aqui, resistem prados e versos: nem as rimas vos salvarão!

que fizestes das palavras?

***

arautos dizem esquecei! lembrai-vos sempre disso!

recuperai memória, criai história, fazei acontecer! tornai ao âmago das coisas, alimentai-vos do sopro, reconstrua-se a carne: não vos falo do verbo e muito menos do adjectivo, Vaidade! Falo-vos da oração completa: voltai a desenhar as letras...



Luís Nogueira

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O QUE DEUS LHE DEU

Um Senhor disse ao criado:
- Amanhã vamos à feira,
tu não és preciso na eira
e eu vou-te comprar um arado.

E o criado perguntou:
- Senhor e o que compro eu?

O Senhor então respondeu:
- Tu? Tu não precisas de nada,
dou-te o arado e a enxada
e já tens o que Deus te deu.

Aí o criado pensou:
- Tenho o que Deus me deu
e ele ainda me dá o arado e a enxada,
então se Deus não lhos deu
ele vai ficar sem nada.

O criado então disse:
- Senhor, não posso aceitar
aquilo que me quereis dar
e que Deus a si não deu.
- Ficai com o arado e a enxada
que embora não vos sirva para nada
eu já tenho o que Deus me deu.

O Senhor replicou:
- Não te preocupes comigo,
que isso te posso eu dar,
porque Deus é meu amigo
e criou-te para ficares comigo,
para eu não ter de trabalhar.

Por fim o criado chorou, pensou
e sozinho consigo mesmo falou:
- “COMO É BOM TER UM AMIGO”.


Leandro Santos
In: “Sons das Palavras”,
Prémio Nacional de Poesia
da Vila de Fânzeres – Gondomar -2003

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A MINHA IDADE

são três,
as idades que trago em mim!

- a da identidade, à qual fugir não quero.
a da amargura, que da primeira faz o dobro dos invernos.
- e a mais importante de todas,
que não sei quantas primaveras tem de peso
e que me dá vigor para carregar
o desgaste físico de uma
e os males d’alma da outra.

- é a idade constante da esperança!

eduardo roseira

sexta-feira, 9 de abril de 2010

PUDESSE VOLTAR A NASCER

pudesse voltar eu,
a nascer outra vez.
queria ser o mesmo.
queria ser – eu!

bom feitio.
mau feitio.
mudo por vezes
num repente.
das virtudes sou vadio,
assim serei
eternamente.

bons momentos já vivi.
maus bocados já passei!
muita terra conheci.
mas a uma só amei.

botão de rosa
eu nasci.
hoje sou…roseira.
de tudo, quase vivi.
mas fi-lo à minha maneira.


eduardo roseira

quinta-feira, 8 de abril de 2010

DEFINIÇÃO

a mim que sou poeta,
não me peçam
para o definir.
pois por o ser,
só digo a verdade
mesmo que pareça
estar a fingir.

mas se insistem
em que vos diga
o que dos poetas
eu penso?
só vos posso dizer,
sem o real iludir .
que o poeta é um ser,
que cala sem nunca consentir!


eduardo roseira

quarta-feira, 7 de abril de 2010

UMA ESTRELA CHAMADA AMIZADE - texto colectivo

Certa vez, uma “menina estava a dormir
e a luz da Estrela entrou no seu quarto.”
Era uma ”Estrela Mágica”
tão mágica…tão mágica…
que “à noite brilha muito, muito, muito…”
O seu brilhar é tanto, que
“…dá luz ao Planeta Terra”.
A Estrela chama-se “Amizade
e é muito bonita por Amor”.
Um dia ao saber que a poluição
afligia uns amigos seus,
“A Estrela caiu no rio e sorriu para os peixes.”
Isto aconteceu porque :
“A Amizade é estar com os nossos amigos
quando precisam de nós.”
Porque :
“A Amizade não se compra constrói-se,
todos a devemos construir.”

E a melhor forma de a construir,
é unir todas as estrelas mágicas
que existem dentro de nós
e fazermos uma Estrela chamada Amizade.


eduardo roseira
Vila Nova de Gaia
23-Setembro-2004


Poema elaborado com base nas frases sobre a “Amizade” e “A Estrela Mágica”, de alunos do 1.º ano do Ensino Básico, da Escola da Praia – Santa Marinha – Vila Nova de Gaia, seleccionadas pela Professora Maria do Céu, no ano lectivo 2003/2004.

- A Amizade é muito bonita por Amor.
- A Amizade é estar com os nossos amigos quando precisam de nós.
- A Amizade não se compra constrói-se, todos a devemos construir.
- A Estrela à noite brilha muito, muito, muito…
- A Estrela brilha e dá luz ao Planeta Terra.
- A Estrela caiu no rio e sorriu para os peixes.
- A menina estava a dormir e a luz da Estrela entrou no seu quarto.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

QUISERA EU...

…quisera eu…
que fosses
eco
do meu silêncio.
            …quisera eu…
            que fosses
            brilho
            do meu olhar.
…quisera eu…
que fosses
o tudo
do tudo
que te quero
dar!


eduardo roseira