terça-feira, 8 de março de 2011
MARIAS - Poema de Ana Maria Roseira, minha irmã.
Lá vai Maria, lá vai…
Vai Maria, vai e vem.
Lá vai ela, vai cantando,
como uma cotovia.
Lá vai ela, vai cedinho,
vai lavar roupa no rio
Lá vem Maria, lá vem.
A rodilha na cabeça,
onde carrega o seu cântaro.
Foi à fonte, água buscar.
Lá vem ela, remexendo suas ancas,
com pressa, mas cuidado,
para a bilha não quebrar.
Acende o lume, Maria.
Teu homem está a chegar.
Tens o caldo para fazer,
o pão no forno a cozer,
para lhe dar de jantar.
Vai Maria, vai passando.
Com essa enorme barriga,
um filho está esperando.
Para juntar ao outro,
que ao colo vai carregando.
E o tempo passou!...
Lá vai…lá foi!...
A Maria teve filhos, mais e mais…
Envelheceu e engordou.
Até que enfim, teve netos.
…………………………………………
Ficaram outras Marias,
que também vêm e vão.
Já não levam cantarinho,
e à fonte já não vão.
Têm água canalizada…
Do rio, com peixe morto,
não querem sequer o cheiro.
Têm máquina de lavar,
uma arca com congelados,
e comida pré-cozinhada.
É mais rápido, mais fácil,
servir assim o jantar.
As conversas na fonte e no rio,
com as outras Marias,
deram lugar ao sofá,
à T.V. e à novelas,
talvez … “as da vida real”…
Cantar pelo caminho?
Não, que parece mal.
É pimba!
Preferem fazê-lo em “play-back”,
ou então no “karaoke”!
Ir a pé? Nem pensar.
É cansativo.
“Jogging”, é para os tempos livres.
Têm o seu carro, comprado a prestações,
ou ganho nalgum concurso.
Rodilha na cabeça?
Também já não precisam.
É mais útil o “air-bag”,
com que o seu carro está equipado.
E lá vão elas, lá vêm,
na corrida contra o tempo,
de casa para o trabalho,
passando pelo Infantário.
E o tempo passou!...
Lá vai…lá foi!...
E então, outras Marias,
passaram a ser Avós.
………………………………………………..
Repete-se o ciclo.
Apenas muda a tecnologia,
Fruto do progresso.
Maria vai, Maria vem…
Ana Maria Roseira,
in: "Colar de Estrelas"
lavra...Editorial, VNGaia, 2004
Imagem: "As Siamesas", técnica mista s/tela, de eduardo roseira, 2010
sábado, 5 de março de 2011
PAI
Tanto na vida lutaste
e ela nunca te sorriu,
Com a vista enfraquecida
quase numa cegueira,
mas os braços nunca baixaste
e lutaste a vida inteira.
Sucesso foi quase nulo
com tanto saber que tinhas
e poder de imaginação,
mas os magros tostões
que ainda tinhas
para nada te davam,
nem para o vício do cigarro.
Enfim!..
nem quase para o pão!!!
Por tantas as ironias
que a vida te pregou,
até a saúde tão mal te tratou.
E ainda hoje me interrogo:
-Pai, onde estão os grandes valores
que sempre tiveste?...
Natália Carvalho
V.N.Gaia
para nada te davam,
nem para o vício do cigarro.
Enfim!..
nem quase para o pão!!!
Por tantas as ironias
que a vida te pregou,
até a saúde tão mal te tratou.
E ainda hoje me interrogo:
-Pai, onde estão os grandes valores
que sempre tiveste?...
Natália Carvalho
V.N.Gaia
19-março-2003
Imagem: sapo.pt
Imagem: sapo.pt
Etiquetas:
Pai; tabaco; pão; Natália Carvalho;
sexta-feira, 4 de março de 2011
FOI HÁ DEZ ANOS...em memória...
RAIVA!...
(Em memória das vítimas do desastre da ponte de
Castelo de Paiva/Entre os Rios, em 4 de Março de 2001,
às 21 horas e 10 minutos)
Rio Barrento
Dia Sangrento
Paisagem Soturna
Viagem Sem urna
António Luia
In: "Correntes...Louvor aos Rios", Colectânea Poética,
lavra...Editorial, 2003, Gaia
(Em memória das vítimas do desastre da ponte de
Castelo de Paiva/Entre os Rios, em 4 de Março de 2001,
às 21 horas e 10 minutos)
Rio Barrento
Dia Sangrento
Paisagem Soturna
Viagem Sem urna
António Luia
In: "Correntes...Louvor aos Rios", Colectânea Poética,
lavra...Editorial, 2003, Gaia
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