- Truz…truz.. – “ Abre a porta, não tenhas medo! Eu venho para ajudar os que precisam como tu, em nome da solidariedade europeia!...Confia em mim!”
Eu, país, acreditando nos comuns e solidários, abri a porta e aceitei a ajuda, porque queria dar aos meus o futuro de prosperidade e crescimento. Dar-lhes o progresso e o bem estar que eu nunca tive.
Depois deram-me um bonito cartão de crédito, dos Gold, ao qual sem eu pedir, foram aumentando o plafond, até que um belo (?) dia, mesmo sem fraque e sem bater à porta, ou pedir licença, entraram-me dentro de casa e disseram-me que: “ Acabou, já não damos mais ajuda! Tens que pagar tudo, e rapidinho, senão mandamos chamar o Bond.” (?)
Como eu, país, não tinha o que me pediam, assim de um dia para o outro, disseram-me que não havia problema, pois emprestavam-me mais uns cobres para eu dar de comer aos meus e ir atenuando os juros da divida, adiantando que o faziam na melhor atitude solidária, só com uns jurozitos na ordem dos 95%!!!
Entre a espada e o cofre… vazio, lá aceitei.
Afinal a ajuda não passou de uma esmola dada com uma mão fechada e a outra a fazer figas atrás das costas, por um grupo de agiotas da pior espécie, que em simultâneo com os empréstimos me iam impingindo os carros que fabricam, os velhos autocarros que já não usam, o material de guerra que fabricam, com submarinos incluídos e tudo o mais…e também por via disso, foi um acumular de juro sobre juro para eu pagar e os solidários a amealhar lucros, muitos lucros para novas solidariedades.
Como se não me bastasse, ameaçaram-me de novo com o Bond!? – dizendo-me que não era nenhum agente secreto, era o Eurobond, que vinha aí e nacionalizava-me a divida e mesmo até o país.
Razão tinha o meu avô ao avisar: “- Tem cuidado rapaz, se te oferecerem um presunto, é porque te vão exigir um porco!” – realmente ao lembrar-me deste ditado, perante a calamitosa situação a que levaram o país, temo que mais dia, menos dia, me nacionalizem e apareçam de novo á porta com uma qualquer bandeira na mão dizendo:
“ – Eu sou o Bond, o Eurobond!...”
Eduardo Roseira
Imagem: sapo.pt