Porto, 11 de Março de 1997
Meu querido menino,
Já lá vão oito meses, desde quando a tua Mãe foi fazer a primeira ecografia, a qual nos mostrou que estava tudo bem e que eras rapaz. Só queria que tivesses visto a sempre sorridente cara da tua mãe a conter o maior sorriso que algum dia lhe tinha visto, ao mesmo tempo que, conhecendo-a como conheço, ouvi dentro do seu peito a soltar-se um enorme grito, bem na moda de: - «yESsss!!!». Eu, pela minha parte nem sei como consegui reprimir uma lágrima de felicidade que se ficou pelo canto do olho, ao mesmo tempo que o meu coração batia bem mais forte ao receber tão boa notícia.
De imediato, começamos a fazer projectos em tons de azul-bébé!
Hoje ao fim de nove meses e alguns dias de gestação normal, nasceste com uma boa batida de coração, com quatro quilos e a medir cinquenta e dois centímetros e meio. Graças a Deus, com saúde! A tua Mãe está bem.
Nunca esquecerei o momento em que a enfermeira-parteira te colocou nos meus braços. Estavas a dormir tranquilamente como um anjo. Se é que os anjos dormem. Ao pegar-te, senti não o teu peso, mas sim o da responsabilidade por te guiar nos primeiros passos da tua vida, desde as noites em que com dores nos irás “atrapalhar” o sono e nós quase sem saber o que mais te fazer para as mesmas passarem; depois virão as gracinhas; as primeiras palavras; o primeiro passito e tudo o mais que irás fazendo ao longo do teu crescimento. Até que um dia, já contigo a “palrar” que nem um papagaio, chegará a altura das interrogações naturais que te irão surgindo com o passar dos dias e então colocarás imensos porquês!? Para uns as respostas ser-te-ão dadas de imediato, de tão evidentes que são as questões, outras porém, ficarão sem qualquer resposta. É que há certos “porquês” que não tem “porquê” de existir, tais como:
- Os meninos sem pão! Os meninos com guerra! Os meninos sem a alegria de um Lar! Os meninos sem amor!
A estes e a outros “porquês” não te saberei dar respostas concretas e infelizmente sou levado a crer que nos muitos anos que tens à tua frente, nunca encontrarás respostas ou alguém que tas saiba dar. Nem mesmo por parte daqueles que:
- Negam o pão aos meninos! Lhes dão guerras como prendas! Se recusam a ser pais! Não lhes dão amor! - Negando assim aos meninos o que há de mais belo, que é, o deixá-los ser meninos!
Penso que talvez o façam porque também eles nunca o foram. Da minha parte, espero vivamente que ao aperceberes-te de tudo isto não te tornes frio e cruel, e que mesmo quando fores homem, continues com a pureza dos meninos durante toda a tua vida. Por mim, peço a Deus que me ajude a dar-te a meninice a que naturalmente tens direito.
Beijos e carinhos para ti, meu menino, do Pai amigo.
(Eduardo Roseira)
P.S.- Ah! Já me esquecia, beijos da tua Mãe Maria José e muitos miminhos da tua irmã Helena Sofia.
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