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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

OUTRA VEZ E SEMPRE ANTÓNIO GEDEÃO



saber-se-á lá porquê
ou suspeitar porque não
ocorreu-me ao rés da voz
o António Gedeão
e a sua pedra lioz

não só por Álvaro Góis
ou por algum Rui Mamede
filhos de António Brandão
naturais de Cantanhede
mas pela graça infinita
contra a secura maldita
de viver sempre com sede
sede brava
sede bruta
que só com arte se educa
nem que seja ritmada
por pancada bem marcada
numa pedra
truca-truca

e vale de tanto esse encanto
que não cabe dor nem pranto
nem traz a gente maluca
truca-truca
truca-truca…

ah bravíssimo Gedeão
que de martelo e cinzel
base
fuste ou capitel
escopro de outra afeição
nos trouxe ao viver medonho
algo assim maior que o pão
por saber viver o sonho

pois dessa pedra lioz
tangida em artes de gente
lá tem anjos
lá tem sóis
tem um diabo demente
tem cometas
girassóis
meninas de caracóis
e algum deus omnipotente

e na planura terrestre
ingente
um rumor se escuta
que vai de leste a oeste
do chão à abóbada celeste
truca-truca
truca-truca…
trocando as voltas à vida
na espiral apetecida
de ser Vida que nos preste

ah meu caro Gedeão
quão imensa a gratidão
pelo alento que nos deste
de erguer os olhos do chão
enquanto a pedra se educa
truca-truca
truca-truca
e a pedra bruta afinal
cresce ao céu
é catedral
porque entre o bem e o mal
um homem simples
normal
truca-truca
truca-truca
truca-truca
truca-truca… 

Jorge Castro
16 de Janeiro de 2012

2 comentários:

Jorge Castro (OrCa) disse...

Grato pelo destaque, meu caro, com um grande abraço... que ainda vamos a tempo, agora e sempre, de partilhar com Gedeão!

Aristides Silva disse...

Parabéns ao JC por este magnífico poema!
Poema para ser lido, dito e sentido!