não..não choro!
(não quero dar-lhes essa alegria.)
não…não escrevo com saudade!
(isso é para quem parte…
e tu continuas connosco!)
que fique de ti
a lembrança
de um zeca
num “bairro negro”
sentado numa “pedra filosofal”
à sombra de um embondeiro…
cantando para um “menino d’oiro”
ensinando-lhe a esperança
dos dias felizes,
com que sonhaste…
porque lutaste…
e nos cantaste…
na luta foste persistência
e coragem na resistência.
descansas agora a canseira
“à sombra (da tua) azinheira”,
cantando “eles comem tudo…”
(mas nós sabemos, que nem no “entrudo”,
eles comeram as papas na tua cabeça).
…e a luta, só agora começa!
não serás para nós
um símbolo qualquer.
serás, isso sim!
aos olhos de filhos, pais e avós.
o homem que sabe o que quer!
o companheiro que resiste até ao fim!
connosco estarás sempre presente!
serás, companheiro zeca, eternamente!...
eduardo roseira
Fanzeres/Gondomar
23 de fevereiro de 1987
Nota: Escrito poucos minutos após a notícia
da morte de José Afonso (23/fev/1987) e
lido à 01h10, para o programa “È de noite já
se vê”, da Rádio Comercial.
Imagem: Logotipo do Projecto Amigos Maiores que o Pensamento