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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

NA PARTIDA DE ZECA AFONSO - (poema escrito há 25 anos)


não..não choro!
(não quero dar-lhes essa alegria.)
não…não escrevo com saudade!
(isso é para quem parte…
e tu continuas connosco!)

que fique de ti
a lembrança
de um zeca
num “bairro negro”
sentado numa “pedra filosofal”
à sombra de um embondeiro…
cantando para um “menino d’oiro”
ensinando-lhe a esperança
dos dias felizes,
com que sonhaste…
porque lutaste…
e nos cantaste…

na luta foste persistência
e coragem na resistência.
descansas agora a canseira
“à sombra (da tua) azinheira”,
cantando “eles comem tudo…”
(mas nós sabemos, que nem no “entrudo”,
eles comeram as papas na tua cabeça).
…e a luta, só agora começa!

não serás para nós
um símbolo qualquer.
serás, isso sim!
aos olhos de filhos, pais e avós.
o homem que sabe o que quer!
o companheiro que resiste até ao fim!

connosco estarás sempre presente!
serás, companheiro zeca, eternamente!...

    eduardo roseira
  Fanzeres/Gondomar
23 de fevereiro de 1987

Nota: Escrito poucos minutos após a notícia
da morte de José Afonso (23/fev/1987) e
lido à 01h10, para o programa “È de noite já
se vê”, da Rádio Comercial.


Imagem: Logotipo do Projecto Amigos Maiores que o Pensamento

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Eis aqui, o meu tributo...


Eis aqui, o meu tributo
ao contributo
feito generosamente
pelo nosso nobre povo
ao mui endividado
e cavacado presidente.

Nem as plurireformas
lhe chegam para as despesas
pois estas são tão amorfas
que não lhe aquecem
as incertezas.

Vai ter que ir comer
onde come qualquer indigente
e muito dignamente
dá uma sopa melhorada
ao nosso presidente.

Kim Berlusa

Imagem: google.com

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

põe a máscara, tira a máscara...


põe a máscara, tira a máscara,
põe a máscara, tira a máscara.
soltou o cabelo e olha-se ao espelho.
- sou eu ou a máscara?
já não se conhecia. ninguém naquela casa se preocupa com o que ela faz ou deixa de fazer, com o que sente ou deixa de sentir. quantas páginas da sua vida desmembradas em silêncio. sempre a viram sorrir.
mulher, mãe, amante, irmã e amiga!
desgastada, estende-se no leito e seu marido com brutalidade aperta-a contra o peito.
um esgar de dor é substituído por um sorriso.
pôs a máscara…a última do dia.

tira a máscara, põe a máscara,
tira a máscara, põe a máscara.
aproxima-se a hora do frente a frente na televisão
em directo. endireita o nó da gravata e ensaia várias expressões em frente ao espelho. a sua boca abre-se num sorriso aberto. sorrir agrada ao povo, mais do que se faz ou do que se promete. prometer não custa nada… até é de graça.
tem de vencer os adversários. passar a mensagem só com a sua imagem.
fazem-lhe um sinal. chegou a hora.
pela décima vez repete o ensaio sorri e pensa para si: está perfeita…esta sim…foi mesmo feita para mim!...

põe a máscara, tira a máscara,
põe a máscara, tira a máscara.
a estrada desta vida é um palco de teatro!
nela, alguns de nós somos actores,
alguns de nós somos palhaços.
tira a máscara, põe a máscara,
tira a máscara, põe a máscara.
proliferam pelo mundo inteiro, cordeiros com máscara de lobos e muitos mais lobos mascarados de cordeiros. sem máscara…existem biliões de capuchinhos vermelhos!.


Teresa Gonçalves
in: "Pleno Verbo - olhar interior”


Imagem: óleo de Miguel Barros

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Dedicado às crianças moçambicanas.

contemplando morros de mochem
e palhotas e palhotas de amor
embalei um sonho para acordar realidade.
não ver mais cinzas negras da morte
nem meninos de olhos magoados.
meninos iguais ao meu, ao teu
iguais aos filhos de todos os nós.
alguma vez te perguntaste se eram felizes?
meninos de olhos tristes.
brinquedos de armas e catanas.
embalei o meu sonho no berço da esperança
contemplando morros de mochem e palhotas de amor
vi um povo irmão, livre, com um futuro melhor.
em vez de armas e catanas, brinquedos e livros.
um sorriso nos olhos, um coração verde.

Teresa Gonçalves
In: "Pleno Verbo", Edium Editores,
S. Mamede de Infesta, Maio de 2011