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domingo, 10 de janeiro de 2010

LABIRINTO DE EMOÇÕES...



I


na tarde solarenga de calor abrasador, persigo as sombras que passam.

- o velho de cajado na mão e com um gasto chapéu de feltro cinzento na cabeça, que vai subindo o íngreme cansaço da calçada.

- a senhora que caminha vagarosamente sob o peso da sua anafada figura, enquanto arrasta atrás de si um puto de desgrenhados cabelos negros, que na mãozita agarra com muita força uma bola vermelha.

- à frente de uma sombra felina, passa um cão de língua de fora, sequioso de água que não vê, nem pressente.

eu, de copo de refrescante cerveja na mão, sentado numa sombria varanda de ilusões, tento não pensar em nada, mas as sombras que passam levam-me em viagem até a um saudoso futuro cuja sombra há muito persigo, fazendo-me olhar o passado que já não sei, ao mesmo tempo que me mostram a cruel realidade deste mundo cão.

... até que o estridente soar do telefone rompe o silêncio, roubando-me aos pensamentos...

- atendi!...

... era engano !!!...









II



o sol já lá vai há muito tempo.

à memória chega-me uma chuvosa e fria noite de inverno, passada na companhia de um quente e amargo café que vou sorvendo de pé, enquanto olho a estreita rua deserta através da janela de um gélido quarto.

nas alugadas quatro paredes cal, as sombras da pouca mobília quebram a solidão.

no espelho vejo a gorda lua que entrou pelo fino das cortinas.

o silêncio irrita!

o frio corta, dói !

nem o negro líquido, que quase a ferver me vai escorregando pela garganta, consegue desfazer o seu frígido nó.

braseira..., aquecedor..., são luxos que não sei.

a moer-me no íntimo, não está o que pago, mas sim o porquê de um dia a esta porta ter batido.

ah! Soubesse eu, onde encontrar o destino?

perguntar-lhe-ia todos os porquês!

não os de hoje, mas os de amanhã.

depois..., bem...

...nem depois, nem agora.

é que o destino nunca o alcançou ninguém.

ele foge, foge...mesmo até quando já chegamos ao fim.

como é cobarde o destino !

sempre a iludir-nos!

- o irritante silêncio continua.

- o frio insiste.

nem a memória me aquece!!!






III


... distantes são as travessuras e os inocentes dias da meninice...

pondo de lado as “obrigações” ditadas por uma lucidez que nos impede as recordações, dou comigo a querer reencontrar-me e de quando em vez sou levado até tempos retidos no mais íntimo da memória, que nem mesmo o amarelecer das fotografias consegue fazer esquecer.

sou despertado tão intensamente, que a saudade do tempo da inocência bate-me à porta de forma tal, que mesmo a lembrança da sala de aulas me mostra o quadro negro, no qual ainda restam vestígios de giz das contas que entretanto o “noves fora” da vida foi apagando.

fechando os olhos, a memória insiste, levando-me em simultâneo a vários pedaços de tempo e a histórias plenas de alegrias e vivências, que de tão intensas que são, fazem com que eu me perca...

... tal é o labirinto de emoções!!!...



eduardo roseira


(imagens: sapo.pt)

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