O “Jornal de Notícias” de hoje (1 de Fevereiro de 2010) deveria trazer numa das suas páginas a habitual crónica de opinião do Jornalista da SIC, Mário Crespo, contudo a mesma não foi publicada pois segundo a “Nota da Direcção” do referido jornal…:
“…Basicamente, no entender do director do JN o texto de Mário Crespo não era um simples texto de Opinião mas fazia referências a factos que suscitavam duas ordens de problemas: por um lado necessitavam de confirmação, de que fosse exercido o direito ao contraditório relativamente às pessoas ali citadas; por outro lado, a informação chegara a Mário Crespo por um processo que o JN habitualmente rejeita como prática noticiosa; isto é: o texto era construído a partir de informações que lhe tinham sido fornecidas por alguém que escutara uma conversa num restaurante. …”
No final desta minha crónica de opinião transcrevo com a devida vénia, a crónica de Opinião do Mário Crespo, que entretanto se demitiu, para que os leitores do “Ecos do meu Pátio” possam fazer o seu juízo.
Eu da minha parte, já andava para deixar de comprar o ”JN”, mas com esta atitude censória, e enquanto não houver mudanças no referido jornal, NUNCA mais o comprarei.
Relativamente à Nota da Direcção do “JN”, entendo a mesma como uma boa desculpa, para de certo modo ninguém poder acusar a mesma de acto de CENSURA.
Só que a meu ver, se não existiu CENSURA, houve uma coisa bem pior, que se chama de MANIPULAÇÃO. É caso para dizer, venha o diabo e escolha.
Termino, repetindo o que referi anteriormente, …a partir de hoje deixo de comprar o “Jornal de Notícias”!
E permito-me finalizar com uma frase proferida num Colóquio sobre a Censura de antes do 25/4/74, que teve lugar no Porto, no Museu da Imprensa, no dia 9 de Novembro de 1998, (já lá vão quase doze anos), da autoria de um Jornalista de referência daquele periódico, referindo-se à actualidade das atitudes de alguns jornalistas e direcções, no pós 25/4/74, e que pelos vistos continuam actuais e refinadas, disse ele:
“Pior que a censura, só a manipulação”, José Saraiva.
eduardo roseira
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De seguida a crónica que foi censurada pelo JN:
“O Fim da Linha”, por Mário Crespo
Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento.
O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa.
Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal.
Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o.
Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos.
Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados.
Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre.
Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009.
O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu.
O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”.
O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”.
Foi-se o “problema” que era o Director do Público.
Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu.
Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada. "
Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010) no “Jornal de Notícias”.
NOTÍCIA DA PÁGINA DA INTERNET DO SEMANÁRIO “SOL”:
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
ENTRE A CENSURA E A MANIPULAÇÃO
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