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terça-feira, 11 de setembro de 2012

A VISITA DA SAUDADE...



Aos meus Pais, Maria Helena e Eduardo Roseira

 

um dia, sem bater à porta, aconteceu a visita da saudade…

a casa ficou com mãos de nada…

as paredes, vestiram-se de nudez…

o ranger da porta deixou de cantar…

de tristeza, as molduras, ficaram vazias…

as cortinas, outrora bordeaux, viraram cor da palidez…

o gato, esse, deixou de connosco falar…

as paredes, nuas…frias…

os móveis prontos a partir…

o silêncio das noites, invadiu os dias nesta casa solidão…

por detrás dos armários, as teias, agora são rugas…

o que antes falava da história da casa, é agora velha tralha…

as prateleiras, plenas de cultura, estão ocas…nuas…

o tapete, primeira serventia da casa, já só atrapalha…

num canto, esquecida, uma jarra de rosas murchas, solta um lamento…

do velho relógio, ainda na parede, o cuco já não sorri…

é a invasão da tristeza em lume brando e tempo lento…

o piano, agora desafinado, em desafio toca um dó, em lugar dum si…

a ferrugenta gaiola de vazia, emudeceu…

num constante martelar a saudade, apenas o “ping…pang…ping…pang…”

da torneira do lavatório, como que reclamando o seu eterno adiado arranjar…

perdido neste silêncio,  ecoa um fado saudade, tocado no avariado gira-discos …

colado na parede do escritório, o amarelecido mapa…da geografia da vida,

já não nos seduz para qualquer destino…

a carunchosa credência, junto à entrada, aguarda a chegada do lixeiro,

e ironicamente, na sua gaveta conserva uma velha cautela que a vida não premiou…

 

...eis a história do dia em que dentro da casa a saudade se instalou…

 

Eduardo Roseira