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terça-feira, 26 de abril de 2011

MOÇAMBA


Menino pequeno,
gaiato,
moreno,
com medo do cão.
Risada gostosa,
traquinice pronta,
terno coração.
Criança feliz,
livre de cuidados
vivia contente.
Cresceu e aprendeu

que a vida magoa
quem cresce e aprende.
Aprendeu saudade,
dor, separação.
Almoçou tristeza.

Jantou solidão.
Confuso e inseguro
tacteia no escuro,
procura a verdade.
Cansado,
dorido,
recorda o passado,
mata-o a saudade.
Não sabe o que quer.

 Não sabe onde vai.
Não sabe o que sente.
Inerte a vontade,
perplexo o olhar,
nem sabe se é gente.
...............................
Menino crescido

vagueia perdido,
só na multidão.
que simples que era
ter medo somente
dos dentes de um cão.

Suzette Costa


Imagem: sapo.pt

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O meu País...


O meu País.
Ah, o meu País.
Não sei se é
assim que se diz,
está em stand by.

Ai vai de mal a
pior e vai desta
p’ra melhor
se o povo não
se impuser.

O carro anda
à frente dos bois
com tantos
job’s for the boys.

PEC’s, são mais
que as mães
e ferram-nos
como cães.

O meu País
nada vê
pois sofre de
glaucoma
e está em estado
de coma
e quase num
estado terminal.

Por isso já é
tempo
de acabar o
desalento
e dar um grito
visceral:

- Revolta-te ó
Portugal!

Kim Berlusa

domingo, 24 de abril de 2011

O DIA PRIMEIRO

foi a 25,
o dia primeiro.
um cravo
flor de esperança,
anunciou a primavera,
nas mãos de um capitão
chamado abril.

foi a 25,
o dia primeiro.
soltavam-se as grilhetas
duma aprisionada nação,
que sofria mil agonias.
a liberdade tocou as trombetas.
ouviu-se uma grândola/canção.
abriu-se a porta a novos dias.

foi a 25,
o dia primeiro.
o medo para bem longe fugiu,
as vozes vieram às janelas
e bem alto
em uníssono gritaram:
-          liberdade!
-          liberdade!

hoje,
trago dentro de mim
um velho cravo
que guardei desde
esse que
foi a 25,
o dia primeiro.


eduardo roseira

 Imagem: sapo.pt

sábado, 23 de abril de 2011

ENTULHO

entre o lixo
um montão de pedras.

quantas histórias
de sorrisos
e perdas?

eduardo roseira

Imagem: sapo.pt

terça-feira, 12 de abril de 2011

SIGILO POÉTICO


Peço-vos sigilo sobre os meus versos

Bem sei que arrisco não constar
nos tops de vendas
mas como é sabido
nos dias que correm
tudo o que é feito com amor
deve ser tratado com a máxima discrição
até porque se os meus versos
forem bons
destruo toda a minha reputação
de diletante e promessa adiada

Por isso vos peço
respeitem a natureza clandestina
dos meus versos
não falem deles a ninguém
nem amigos nem família nem colegas

só aos amantes

Tiago Rodrigues


Imagem: sapo.pt

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A CUNHA



Antes era o privilégio
um assunto grave e régio

Por alta recriação
o rei punha e dispunha
Por dito a bem da nação
o facho metia a unha
Com a democratização
põe e dispõe a cunha

Cunha ministerial
do alto funcionário
do influente local
do chefe do empresário

Tudo cunha
minha gente!
Sem cunha
quem vai em frente?

Filhos sobrinhos irmãos
amigos contemplados
um Portugal de cunhados
atado de pés e mãos

Carlos Brito
In: “O Modo e os Lugares”
Editora Campo das Letras,
Lisboa, 2004

Imagem: sapo.pt