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terça-feira, 23 de novembro de 2010

HIENAS, ABUTRES E CHACAIS...em jeito de apelo à Greve Geral



ci-cli-ca-men-te
hienas      chacais
chacais     hienas
a disputa
é por demais
com os abutres
ali ao lado…
e portugal?

portugal…
sempre adiado!

ci-cli-ca-men-te
portugal
desespera
roga
olhando o céu
e o que vê?
um bando de abutres
à espera!...

ci-cli-ca-men-te
entre hienas
abutres
e chacais…
portugal assim…
…nunca mais…
…nunca mais…
da cepa torta sais.

       eduardo roseira
         23/Nov/2010
(às portas duma Greve Geral)


Imagem: Sapo/imagens - Portinari, "A Greve"

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

UMA QUESTÃO DE MEDIDAS

Já lá vão cerca de vinte e cinco anos a esta parte, que por uma questão de medidas deixei de fumar. Não medidas colocadas por questões de saúde e muito menos medidas impostas por qualquer lei ou norma governamental. Foram apenas medidas. Mas adiante.
Não vou, nas linhas que se seguem, deixar avisos contra os malefícios que advém do prazer do acto de fumar, mas sim por estar totalmente contra a campanha anti-tabaco, que obriga os fabricantes a colocar alertas garrafais nos maços de cigarros. Penso que não terá sido esta a melhor forma de combater um produto que fazendo mal à saúde, enche os cofres das finanças, a bom encher. Entendo que não há nada como aumentar o preço do tabaco, desde que a maior parte do dinheiro seja dirigida para o IPO – Instituto Português de Oncologia e não para as Finanças.
Quanto a mim, continuo a achar que a referida campanha é ridícula e por assim a entender, venho propor a quem de direito alguns possíveis slogans, para serem utilizados não nos maços de tabaco, mas sim noutros espaços.
Por exemplo, nos acessos à IP-5 e IP-4 poderiam colocar o seguinte aviso: “Este itinerário prejudica gravemente os seus utentes”; outro poderia dizer, “Atenção, este bairro tem produtos prejudiciais à sua saúde”; ou então “Este lugar de estacionamento, apesar de pago, é um risco para a pintura do seu automóvel”, e já este outro “As SCUT’s são prejudiciais às estradas secundárias.” etc..
Mas que a campanha é ridícula, lá isso é, muito especialmente quando é sabido que existem equipas ligadas ao sector do Ministério da Saúde e outros, que estão a fazer um estudo, em fase já avançada, para, e como forma de combater o consumo de estupefacientes/drogas, se legalize o consumo da cannabis.
Quanto à medida que me levou, ao fim de vinte e cinco anos, a deixar de fumar, foi apenas a de um certo dia, a força de vontade ter batido à minha porta, quando orgulhosamente olhei para o cigarro que tinha entre os dedos, medi-o de alto a baixo e disse-lhe: “Anda esta coisinha de sete centímetros a dominar-me a mim que tenho mais de metro e meio! Isso é que era bom!”
Nunca mais voltei a fumar, e embora me sinta bem no aspecto de saúde, garanto-vos que após uma boa refeição, ainda sinto saudade do prazer de fumar, mas lá tenho resistido às poucas vezes que a tal sou tentado, talvez porque nessas alturas me lembro que afinal…
…é tudo uma questão de medidas....


Eduardo Roseira

terça-feira, 2 de novembro de 2010

CARLOS PINTO in memoriam - A Voz que nos deu Voz...

Foi a incinerar hoje dia 2 de Novembro de 2010 o Camarada/Amigo dos poetas e declamadores de Portugal e proprietário do “Púcaros Bar” CARLOS PINTO.



Homem solidário, de causas e de nobres ideais, o Carlos foi: A Voz Que Nos Deu Voz!


Muitas palavras haveria para dizer dele, mas mais que tudo talvez seja “in memoriam”,
repassar com a devida vénia a sua última entrevista no artigo publicado no semanário “O Sol” - 31 de Outubro, 2010 - Por João Pedro Barros (texto) e Ricardo Castelo (fotografias)





A tertúlia de poesia ininterrupta mais antiga do país



Às 0h15, toca a sineta. «Fechou a cloaca», grita Carlos Pinto, proprietário do Púcaros, situado nas arcadas de Miragaia, em frente à Alfândega do Porto. É sempre assim que começam as noites de poesia, todas as quartas-feiras (muitas vezes, só têm início na madrugada de quinta).

O que se segue, pela noite dentro, é um desfilar de versos mais ou menos conhecidos, ditos por gente mais ou menos inspirada. A única regra é a liberdade total, a raiar a anarquia: não há tema, não há ordem definida, não há hora para acabar.

Os conflitos entre vários participantes desta tertúlia são recorrentes, mas as querelas dificilmente causam mossa. Quando é preciso, Carlos Pinto põe ordem na casa, mas sempre de forma bem humorada. «Digo tudo porque ouço tudo», explica. Há dois ou três palavrões lançados para o ar e a poesia continua.

Um dos habitués é Anthero Monteiro, que já tem várias obras de poesia publicadas. Numa mala, traz uns «cinco quilos de livros» e mais uma pasta cheia de poemas impressos. «O que faz rir é geralmente o que funciona melhor. No entanto, o poema mais dito aqui - e, provavelmente, em qualquer tertúlia poética portuguesa - deve ser o Cântico Negro, de José Régio», observa.



Quem também tem obra publicada é António Pedro Ribeiro, que apresentou no próprio Púcaros, em Maio, uma candidatura independente à presidência da República. «Quero fazer passar uma mensagem anti-mercado, contra o utilitarismo e a transformação de tudo e de todos em mercadorias», afirma. Esta incursão política não é inesperada: em 2006, o poeta escreveu Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro, uma provocação a desafiar o líder do Governo.

As noites de poesia do Púcaros cumprem 14 anos em Novembro e Carlos Pinto orgulha-se de ser o responsável pela «tertúlia poética ininterrupta mais antiga do país». A ideia inicial era «fazer uma noite dedicada aos dizeres populares, mas essa malta não é acessível», relembra.

Por isso, alargou-se o conceito à poesia e, desde então, todas as quartas-feiras, o ritual é sagrado: «Mesmo quando isto fica alagado, cumpre-se a tradição. Vamos ali para o cimo da rampa, recitamos dois ou três poemas e dizemos que nem as cheias nos hão-de calar». Numa sessão comum, a leitura é feita no meio das arcadas que dividem o bar - imaginamos que o espaço tenha sido em tempos idos um armazém de pipas de vinho do Porto. A bebida oficial é a sangria, servida nos púcaros que dão o nome à casa. Quem pedir uma bebida não alcoólica arrisca-se a ouvir uma boca do proprietário.

Muitos participantes lêem poemas de sua autoria e destas noites já resultou a colectânea Um Púcaro de Poesia, da editora Corpos. Mas esta é uma tertúlia de amadores e apaixonados pelas palavras: quem vem apenas ouvir poesia é bem-vindo, quem vem ler pela primeira vez é bem recebido.

As picardias estão reservadas aos veteranos: na noite a que assistimos criticou-se o mau gosto de deixar um poema a meio e a incapacidade dos presentes para «ir até Saturno» através da poesia. As palavras foram azedas , mas na semana seguinte estavam lá todos, amigos como dantes.