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domingo, 31 de janeiro de 2010

O PAPEL SORRI


silenciosamente,
de forma quase inaudível
o lápis sussurra palavras ao papel.
e o papel sorri.

letra após letra,
o lápis acaricia
a alva folha
que de felicidade sorri.

do lápis
as ideias brotam
sobre o papel
e ambos fazem nascer
a poesia.

lápis e papel
trocam afagos com letras.
dão abraços com palavras.
são sentimentos
através das ideias
e em conjunto constroem o poema
até à palavra fim.

(…o lápis cansado
deita-se em merecido descanso…
…enquanto de alma preenchida
o papel sorri.)


eduardo roseira
In: “o sorriso de deus”

(imagem: sapo.pt)

sábado, 30 de janeiro de 2010

RETRATO DE UM VENDEDOR DE ÁGUA (d)ESTILADA




Tem ideias
coladas com cuspe
num cérebro feito
de papel mata-borrão.

De projectos incapaz,
funciona a sabão-macaco,
lixívia e água ráz.

Seus sonhos
são com grude
e palha de aço.
É perito em passeatas
e carrascão.
Constante figura de palhaço
no seu papel de morcão.

Dos sovacos
a cheirar a criolina,
sai-lhe a inspiração poética.
No “estar” nunca atina
pois é isento de toda a ética.

Mestre em cagadas sem consciência,
ele é um verdadeiro às no…
que respeita à inteligência


António Lima

(imagem: sapo.pt)
      Porto

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

CONTAS À MODA DO pORTO...



… já sei, está neste momento a pensar que eu me enganei e provoquei uma gralha no título colocando no mesmo um “p” minúsculo, quando todas as outras letras são todas maiúsculas, mas engana-se, pois não é gralha ou engano no processamento de texto que acontece na maior parte das vezes, por causa da rapidez com que teclamos o mesmo.


Fique sabendo que é mesmo assim, que resolvi escrever, ou seja, a palavra PORTO com “p” minúsculo, isto porque ao contrário daquilo que muita gente pensa é errado dizer-se: “Contas à moda do Porto”, referindo-se à “Mui Nobre e sempre Leal cidade Invicta”.

Na verdade, este termo era aplicado há muitos anos, quando um navio ao fim de largos meses no mar, atracava a um porto e assim que era colocada a prancha para o cais, logo começavam a descer por ela os impacientes marinheiros, que na sua sofreguidão se dirigiam para o mundo proibido, durante meses e meses no mar, a caminho das tabernas onde encontravam o delírio de mulheres sonhadas noite após noite de vigília nocturna; das rixas sem motivo e das apetecidas bebidas, ingeridas em um ou dois rápidos tragos, tudo isto com um sabor de exotismo e diferença das paragens por onde o seu barco aportava ao longo da viagem.

Depois, nos ruidosos e escuros bares e tabernas, os recem desembarcados, mastigavam uma refeição saborosa, pelo menos, porque isenta do baloiçar do navio, e emborcavam copo atrás de copo de cerveja ou vinho, o que aliás pouco importava, desde que de álcool se tratasse.

Entretanto, era chegada a altura do pagamento, e cada um deles atirava um “amarrotado” de notas ou um punhado de moedas, para o meio da mesa ou cimo do balcão, em quantias certas relativas à despesa de cada um. Sem que de qualquer deles, houvesse um gesto que fosse de gentilmente se oferecer a suportar o consumo de um dos amigos ou companheiros de bordo.

É que contas são contas e entre os marinheiros existia uma lei tácita, a que todos obedeciam sem quaisquer contemplações, que era:

- Contas à moda do porto!!!

E tal como referi no início desta crónica, quando escrevi a palavra porto com “p” minúsculo, estava correcto, só que há pessoas que ignorando esta tradição entre os marítimos, penso que de todo o mundo, digam que é um hábito austero que é originário da cidade do Porto e escrevam, digam e logo pensem com um “P” maiúsculo porto, que o é, mas sim um dos muitos que existem por esses mares que são cruzados por um sem número de navios.

A finalizar, e para que se desfaça o engano aqui fica o registo, para que se saiba também que no mundo, há pouca gente com franqueza e generosidade igual à dos tripeiros…(1)



(1) - Designação que se dá aos naturais da cidade do Porto.


eduardo roseira
(baseado no texto “Contas à Moda do Porto”,
de António Manuel Couto Viana)


(imagem: sapo.pt)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

ESTA NOITE




esta noite
fomos abraço em abraço.
ternura na ternura.
beijo no beijo.

esta noite
fomos embaraço sem embaraço.
tremura na tremura.
desejo no desejo.

esta noite
fomos anseio do anseio.
carícia em carícia.
olhar no olhar.

esta noite
fomos receio no receio.
malícia sem malícia.
amor no amar.

esta noite
fomos língua na língua.
regaço no regaço.
calma no calor.

esta noite
fomos trégua à míngua.
esforço sem esforço
e corpos em ardor.

esta noite
dos sós que éramos
e já não somos.
fizemos um só.

esta noite
que guardarei em mim
por toda a vida,
fui sabor do teu sabor.

sabor
que trarei sempre em mim,
como lembrança querida.
do teu, do meu, do nosso amor!

                    (…e…esta noite…
                    ainda não foi a nossa noite!!!)

eduardo roseira

(imagem: sapo.pt)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

UM POEMA AOS MEUS AMIGOS - sms de Vitor Carvalhais e resposta de eduardo roseira




solitário e estendido sobre o leito
acolho a luz branca que entra da janela
e escuto o canto das aves lá fora
dentro de mim
a música é só silêncio
que canta, no meu coração
a alegria da vida.

Vítor Carvalhais, em sms enviado em 27 de Junho de 2007, às 21h29


RESPOSTA DE eduardo roseira, via sms escrito na Beira Rio de Gaia, às 21h45 do mesmo dia:

Ao
Vitor Carvalhais.

de súbito
solitáriamente
rompendo o silêncio
do cair da noite
sobre este
rio águas ouro
por entre luminosas
e alvas estrelas
o poema surgiu
intrometido
no cantar das gaivotas
que poéticamente
mudas
voam ao encontro
de um hino à alegria
e à vida.

eduardo roseira


terça-feira, 26 de janeiro de 2010

NAS MARGENS DA NOITE




acorda a noite
a cidade adormece
o rio aquietasse
nas suas margens
os barcos abraçam-se
ao cais

na estreiteza da viela
o brilhar frio
da lâmina
duma manhosa naifa
aguarda o próximo
tardio

nas ruínas da casa
soltam-se perfumes
que endoidecem
um casal
envolto em fumos
herbáceos

na tasca
contabilizam-se calotes
entre a garrafa e a viola
que em desafinada desgarrada
são eco dum fado
solitário que esmola

nalguns lares tremelicam
luzes que alumiam
o caldo e o pão pouco
o amor…
ficou nas amarguras
da velha porta

nas margens da noite
o pouco e o vazio
já não estranham
nem de nada importam…
talvez seja por isso,
que à noite…nem...

...as gaivotas cantam!!!!


eduardo roseira

(Imagem: sapo.pt)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

BEIRA (Moçambique)



recordo com saudade
o teu corpo rectilíneo
à beira-mar estendido.

recordo o odor
do teu corpo
acácia em flor.

recordo como tu
com os teus braços
afagavas como se fosse um menino…
o macúti…matacuane…
ponta gêa…o maquinino…(1)


eduardo roseira
in: "a colheita íntima"

(1) Bairros da cidade da Beira (Moçambique)
(imagem: sapo.pt - Piscina do Grande Hotel)

domingo, 24 de janeiro de 2010

VIDA DE CÃO




vida de cão!
ai não…
ai é tão bom!

barriguinha p’ró ar
p’rá dona,
a ”pulguinha”
coçar!

vida de cão!
ai não…
é do melhor!

sempre com água
e papinha no comedor.

vida de cão!
ai não…
é tão bom!

e na horinha d’ir
à rua chichi verter,
na relva onde
tu te deitas,
poder cagar.

vida de cão!
ai não…
é o qu’está a dar!



eduardo roseira

(imagem: sapo.pt)

sábado, 23 de janeiro de 2010

EU VOTO ALEGRE




Entendam o título como muito bem quiserem, mas eu não me canso de repetir:

- EU VOTO ALEGRE!

Sim! …ainda me lembro da fenomenal, mas alegre seca que tivemos nas intermináveis filas para aguardar a nossa vez de votar. Foi no dia 25 de Abril de 1975, a primeira de muitas vezes (e eu nunca falhei nenhum acto eleitoral) que votei ALEGRE.

E especialmente nas Eleições dessa Sexta-Feira, Feriado Nacional, evocativo de um dos dias mais significativos para os portugueses que se dizem livres, isto porque, para os mais esquecidos, especialmente aos que se apresentam pela direita, ou os mais novos, aos quais as diversas reformas no Ensino, não souberam ou não quiseram contar o 25 DE ABRIL, é preciso recordar que a Revolução dos Cravos, foi feita a pensar na Liberdade e na Igualdade para todo o povo.

O que é certo, é que tal como eu, tem sido imensos os que de Eleição em Eleição, tem depositado nas urnas um voto ALEGRE, porque consciente, isto pelo menos na altura de o fazermos, que depois…bem, depois tem sido o mau que a gente sabe, mas apesar disso nunca me arrependi de ter praticado o acto de votar ALEGRE e livremente em quem muito bem entendi.

Nesta coisa de votos, entendo que não temos que nos arrepender de ter votado, mas sim de castigar numa próxima altura quem nos faltou à palavra, e em próximo Acto Eleitoral, mais uma vez de forma consciente, ir civicamente às urnas e votar ALEGRE.

Se os que me estão a ler pensam que estou a fazer uma apologia encapotada ao voto em Manuel Alegre, enganam-se, apesar de vos garantir que nas próximas Eleições Presidenciais eu irei votar ALEGRE e mais uma vez, de forma consciente.

De qualquer das formas confesso que nas últimas Presidenciais votei ALEGRE em Manuel Alegre, não me arrependi e estou pronto para repetir a dose.


eduardo roseira

(imagem: sapo.pt)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

VESTÍGIOS DA MADRUGADA



nasce um novo dia.
o velho sol mostra
de novo os raios.
aos poucos a sua luz
vai revelando
o que da noite resta.

numa outrora parede alva
nasceu um multicolor
e disforme grafite
que reclama
ingenuamente,
                     paz           amor.

de cá para lá,
uma puta de mini-saia,
passeia a celulite.
o tempo ronda as seis
e ainda continua no engate,
a ver se esfola mais um pastor.

nos passeios
junto a montras ricas,
vêem-se vómitos/álcool
espalhados pelo chão.
aqui e mais                           além,
pequenos montículos
de merda de cão,
garrafas partidas,
latas calcadas,
pedaços de papel e cartão,
seringas,
restos de pratas e limão.

um sem abrigo
engana o sono num can
                                  t
                                  o.
um ébrio de gatas,
em hálito/fel
lança um enorme
arroto de desencanto.

mais além,
cabisbaixo,
um tipo com cara
de foda mal dada,
regressa a casa
ao encontro da sua
querida mulher,
como se não fosse nada...

aos poucos,
a cidade nasce
para mais um dia
de vida apressada.
das estações.
das paragens.
das posturas.
surgem pessoas...
pessoas...
muitas pessoas!...
que passam sem dar conta
dos vestígios da madrugada.

eduardo roseira



(imagens: sapo.pt)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

PALAVRAS VIVAS - stand-up Poetry - um blog a visitar


JÁ ESTÁ PRONTO A SER VISITADO O BLOG DO(s) ESPECTÁCULOS(s)
PALAVRAS VIVAS - Stand-up Poetry, do animador da palavra, eduardo roseira.

NELE PODEM VER TODA UMA SÉRIE DE IMAGENS DOS ESPECTÁCULOS, AS DESCRIÇÕES DOS MESMOS, A PAR DE ALGUNS TESTEMUNHOS.


(fotos de: Júlia Meireles)

...CERTAS NOITES...



…certas noites…
…certas noites
dormindo
recordo
e acordo.

…certas noites…
…certas noites
sonho o medo
que não tive.

…certas noites…
…certas noites
sofro silêncios
de tempos que não quis
e conservo.

…certas noites…
…certas noites
despertam em mim
memórias sofridas
de adormecidas guerras.

 
eduardo roseira
 
(imagem: sapo.pt)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

PRISÃO SOCIAL



filhos de preconceitos
e de regras sociais
que nos castram.

assim (sobre)vivemos
(in)satisfeitos
envolvidos em ancestrais
pensamentos que nos matam
os ideais…..

eduardo roseira
 
(imagem: sapo.pt)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

RECADO...


......
... e se um qualquer dia
entenderem que é entulho,
toda a minha poesia.
dela façam papel de embrulho.


eduardo roseira


 
(imagem: sapo.pt

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

ARY DOS SANTOS - 26 anos de saudade...




POEMA POVO...

“Ser poeta é escolher as palavras que o povo merece!”

                                                              J. C. Ary dos Santos



ser palavra
na pena
do poeta

ser escolha
do poema
sempre novo

ser voz
que nunca
emudece

dar ao povo
as palavras
que merece.

eduardo roseira
 
(imagem: sapo.pt)

DEUS!?



(na missa de corpo presente pelas vítimas do desastre aéreo, no dia 10 de dezembro de 1999, na ilha das flores, açores, o padre a dada altura questionava o seguinte:

- ... onde estava deus, quando isto aconteceu?...)





deus!?
onde andará
o deus de todos os milagres
em troca de interesseiras promessas.
esse ser omnipresente,
mas das misérias e desastres,
sempre longe de ausente?


deus!?
onde estará esse deus,
bom e piedoso?
que nos vendem,
entre fausto glória.
quando na sua casa,
mesmo junto à soleira,
o que se vê, não reza a história.
são os sem abrigo, os pedintes
e gente sem fé, nem beira.


deus!?
essa imagem
que respeitosamente
ignoro.
é um ser, que não tem rosto!
para nele não se ver, talvez,
as marcas de tanto
e tanto desgosto!


deus!?
esse deus
a quem multidões imploram com fervor,
por vezes com falsa fé.
é um deus sem cor!
pois ninguém sabe
de que raça ele é!


deus!?
o deus omnipotente
a quem imensos chamam de seu.
talvez se viesse ao mundo
em forma de gente,
seria de todos,
o maior ateu!


 
eduardo roseira
In: "o sorriso de deus",
lavra...Editorial, Gaia, 2005

domingo, 17 de janeiro de 2010

HAITI



corpos caídos
pela terra...
                         ...desespero

braços erguidos
ao céu...
..perguntam em mudo silêncio:

                                            ...porquê?...

(...há porquês que não tem porquê!!!...)

eduardo roseira

(Foto: Mattew Marek - American Red Cross/sapo.pt)

sábado, 16 de janeiro de 2010

COMUNICAÇÃO



Comunicação.

Não! Não pensem que vou imitar os Senhores Presidente da República, Primeiro-Ministro ou mesmo até o Cardeal Patriarca, e fazer uma comunicação ao País..
Mas se me permitem, não me levem a mal, mas insisto na comunicação.
Não! Não se assustem, repito-vos que não vou fazer uma qualquer comunicação ao Povo, não! Aliás, quem sou eu para tal ?
Vou sim , falar de comunicação .

De cada vez que ouvimos tal palavra, pensamos logo em MEIOS de comunicação (T V; Telex; Telefone; Telemóvel; Fax; Rádio; Internet, Redes Sociais, etc…) ou em VIAS de comunicação (Estradas; Ipês; Icês; Vcês; Auto-Estradas; Caminhos de Ferro; Marítimos e Aéreos.
Mas porque andamos todos mesmo no "ar", esquecemo-nos do essencial que existe na palavra COMUNICAÇÃO.
Sobre a qual a páginas tantas, o meu velhinho "tira-teimas", a que convencionalmente damos o nome de dicionário, diz ser:
- Acção ou efeito de comunicar; convivência; trato.
Para umas linhas mais adiante dizer que: - COMUNICAR, é o acto de fazer comum e falar.
De tudo isto saliento o acto de convivência; trato, mas muito especialmente o falar.

Embora se diga que " é a falar que a gente se entende " , na realidade nem sempre se pode entender a fala como sinónimo de COMUNICAÇÃO.
É que há por aí muito boa gente que passa horas em frente a um aparelho de TV ou rádio, ou a “teclar” email, ou mensagens nos telemóveis e nas redes sociais a ouvir um comunicador, ou a comunicar, sem que do outro lado alguém lhe dê a COMUNICAÇÃO de que tanto necessita.

Este é apenas um dos muitos reflexos da situação que vivemos no mundo actual, em que tendo tudo tão próximo, tão à mão, estamos cada vez mais longe do nosso semelhante e muitas vezes, mesmo até de nós próprios.

Tomemos como exemplo:
A milhares de quilómetros de distância ocorre uma guerra, que nos é trazida em directo, com todos os pormenores, aos quais assistimos na sala onde confortavelmente sentados no sofá e de cerveja na mão olhamos maravilhados (?) para os horrores da guerra .
Ali bem perto de nós, no quarto ao lado, dorme uma criança que passadas poucas horas irá para a escola;
- " Tem nove anos, anda na terceiro. . . Não… anda no quarto ano... Hum!... ou será no terceiro?!... Bem, isso pouco importa, eu gosto dele! É meu filho… - …eia! Já está… mais um avião derrubado!... "

(mais uma cerveja e continuamos de olhos vidrados no ecrã.)

Eis aqui um caso de falta de COMUNICAÇÃO entre pai e filho. Mas outras mais existem, nesta sociedade que vive constantemente a falar de causas comuns; de comunidades; só que fazem tudo isto relegando para segundo plano a COMUNICABILIDADE, uma qualidade que anda cada vez mais afastada de todos nós, que corremos como nunca o sério risco de ficarmos a falar sozinhos!!!

eduardo roseira

(imagem: sapo.pt)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

SE UM DIA...


                                        “…todo o mundo vai ao circo
                                         menos eu, menos eu (…)
                                         …fico de fora escutando a gargalhada.”
                                                                         Maria Bethânia





se um dia…
o mundo parasse
para alguém sair…
não se admirem se eu ficasse...

se um dia…
o mundo parasse
ficaria calmo…
quieto…
qual sentinela
a vê-los partir.

e logo que ele
de novo acelerasse
ficaria no encanto
da minha janela
a sorrir…
a sorrir…
a sorrir…

se um dia…
o mundo parasse
e alguém
me questionasse
a razão de eu não sair.

eu diria que:

- nem com todos
gosto de ir!





(imagem: sapo.pt)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

M(á)MÓRIA...




a ânsia
de partir
levou-me…

                    segui viagem

num colorido
navio…
               …de
                       casco
                                p
                                o
                                d
                                 r
                                 e…

eduardo roseira

(imagem:sapo.pt)

AS ORIGENS DO HOMEM ARANHA



Spyder-Man – O Homem Aranha, um dos heróis da minha infância.
Herói que me levou a romper muito calção e a ganhar uns tantos aleijões... pudera!... é fácil trepar às árvores, só que depois do voo, o chão é duro.

Mas duro, foi uns anos mais tarde, já adulto, aperceber-me de que afinal o Homem Aranha não correspondia ao meu tipo de herói.

Foi precisamente quando cheguei à conclusão de que o rapaz era, músculo, mas só na fatiota, que tirando isso é lingrinhas…fininho, assim do tipo – muito músculo, mas nada másculo!

Como se isso não bastasse, adora trepar em tudo o que lhe aparece. Num gesto muito gentil, a sua mãozinha lança a teia e zás…trepa logo.
Depois, os postes, sim os postes, não pode ver um que se atira logo a eles. Anda sempre enroladinho com todos os postes que encontra.

Como se todas estas as coisas não bastassem, o raio do moço veste uns collants, bem apertadinhos na perna e justinhos na nalga…só para realçar o músCUlo.

Aliás, analisando bem, o Homem Aranha tem mesmo o ar do tipo de rapaz que faz bordados, renda e cozinhados e deve ser do género de homem que quando vai à casa de banho faz chi-chi sentado.

Mas afinal quais são as origens do Homem Aranha?
Quem são os pais deste herói da BD, do cinema e dos joguinhos…de mão?

Em conclusão, acho que o segredo da sua paternidade está no cruzamento dos collants por parte do papá e das teias de aranha por parte da mamã.
Quer dizer, que os pais do Homem Aranha devem ser o Zé Castelo Branco e a Betty.

(imagem: sapo.pt

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A HISTÓRIA DO TÓ MANSO

Meu nome é Tó! Tó Manso.
Dizem-me: Homem perfeito!
Gozam comigo com’um tanso,
pois p’rás gajas não levo jeito.

O amor forte e louco
é como o Euromilhões.
Jogas, jogas, sai-te pouco,
continuas teso e sem…tostões.

Pensando qu’ela era séria
arrematei-a num leilão.
Saiu-me uma grande galdéria,
agora chamam-me morcão.

O amor que por ela tinha
era coisa sem retorno.
Insisti, forcei, ela foi minha,
em troca virei em corno.

Esta coisa de ser chifrudo
tem muito que se lhe diga
Ou o dinheiro não dá para tudo,
ou tens fraco pêndulo na barriga.

Não consigo viver feliz,
por causa desta desdita.
Mas o destino assim quis,
resta-me afagar a… dita.

Cheguei por fim à conclusão
no que toca ao desamor.
Se já tens pouca tesão,
deita-te a ver filmes de terror.

Do amor ao desengano
é um pequeno passo.
Mais vale amar uma feia,
do que ser corno dum traço.

O meu viver foi triste e stressado,
com tal gesto insuportável.
Se eu soubesse, tinha-me casado
com uma boneca insuflável.


(imagem: sapo.pt)

"ÀRIA" DE SERVIÇO



1 automóvel
2 automóveis
3 automóveis….
100 automóveis…
200 automóveis…
300 automóveis
Ai! Que confusão

Pó-pó-pó…pó-pó-pó…
Sai buzinão
Pó-pó-pó…pó-pó-pó…
Sai buzinão

400 automóveis…
500 automóveis…
600 automóveis…
Mas que tormento

Tanto automóvel
Pó-pó-pó…
Sai engarrafamento

Pó-pó-pó…
Pó-pó-pó…

Pó…luição


eduardo roseira


(imagem: sapo.pt)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

MÃE - Parabéns pelos teus 90 anos




Mãe ,
que palavra
tão sublime.

Mãe,
tantas palavras
já se disseram
sobre ti.

Mãe,
não encontro
mais palavras...
a não ser:

- Mãe, gosto de ti!!!


eduardo roseira

(foto: eduardo roseira(filho))

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

? !


... do passado
pouco me sobra.
fica-me a esperança
no futuro…
que o presente
já me cobra.



eduardo roseira

domingo, 10 de janeiro de 2010

LABIRINTO DE EMOÇÕES...



I


na tarde solarenga de calor abrasador, persigo as sombras que passam.

- o velho de cajado na mão e com um gasto chapéu de feltro cinzento na cabeça, que vai subindo o íngreme cansaço da calçada.

- a senhora que caminha vagarosamente sob o peso da sua anafada figura, enquanto arrasta atrás de si um puto de desgrenhados cabelos negros, que na mãozita agarra com muita força uma bola vermelha.

- à frente de uma sombra felina, passa um cão de língua de fora, sequioso de água que não vê, nem pressente.

eu, de copo de refrescante cerveja na mão, sentado numa sombria varanda de ilusões, tento não pensar em nada, mas as sombras que passam levam-me em viagem até a um saudoso futuro cuja sombra há muito persigo, fazendo-me olhar o passado que já não sei, ao mesmo tempo que me mostram a cruel realidade deste mundo cão.

... até que o estridente soar do telefone rompe o silêncio, roubando-me aos pensamentos...

- atendi!...

... era engano !!!...









II



o sol já lá vai há muito tempo.

à memória chega-me uma chuvosa e fria noite de inverno, passada na companhia de um quente e amargo café que vou sorvendo de pé, enquanto olho a estreita rua deserta através da janela de um gélido quarto.

nas alugadas quatro paredes cal, as sombras da pouca mobília quebram a solidão.

no espelho vejo a gorda lua que entrou pelo fino das cortinas.

o silêncio irrita!

o frio corta, dói !

nem o negro líquido, que quase a ferver me vai escorregando pela garganta, consegue desfazer o seu frígido nó.

braseira..., aquecedor..., são luxos que não sei.

a moer-me no íntimo, não está o que pago, mas sim o porquê de um dia a esta porta ter batido.

ah! Soubesse eu, onde encontrar o destino?

perguntar-lhe-ia todos os porquês!

não os de hoje, mas os de amanhã.

depois..., bem...

...nem depois, nem agora.

é que o destino nunca o alcançou ninguém.

ele foge, foge...mesmo até quando já chegamos ao fim.

como é cobarde o destino !

sempre a iludir-nos!

- o irritante silêncio continua.

- o frio insiste.

nem a memória me aquece!!!






III


... distantes são as travessuras e os inocentes dias da meninice...

pondo de lado as “obrigações” ditadas por uma lucidez que nos impede as recordações, dou comigo a querer reencontrar-me e de quando em vez sou levado até tempos retidos no mais íntimo da memória, que nem mesmo o amarelecer das fotografias consegue fazer esquecer.

sou despertado tão intensamente, que a saudade do tempo da inocência bate-me à porta de forma tal, que mesmo a lembrança da sala de aulas me mostra o quadro negro, no qual ainda restam vestígios de giz das contas que entretanto o “noves fora” da vida foi apagando.

fechando os olhos, a memória insiste, levando-me em simultâneo a vários pedaços de tempo e a histórias plenas de alegrias e vivências, que de tão intensas que são, fazem com que eu me perca...

... tal é o labirinto de emoções!!!...



eduardo roseira


(imagens: sapo.pt)

sábado, 9 de janeiro de 2010

JÁ NÃO ERGO A MINHA TAÇA (ainda o Natal)



por cada natal
que passa
já não ergo
a minha taça,
entristecido
por saber
que o pobre
está cada vez
mais pobre,
tão pobre
de teso,
que já perdeu
a conta
ao seu peso.

já não ergo
a minha taça
por cada natal
que acontece
e solto
a enorme praga,
que o “grande”
me merece,
por sabê-lo
podre de rico,
tão rico,
que não sabe
o valor do seu peso,
por tão empanturrado
de obeso.

já não ergo
a minha taça
por saber
que há fome
em meninos
nus de corpo
e de alma,
que só tem direito
a brincar,,,
com os próprios
dedos da mão
de tão pobres,
pobres,
que eles são.

por cada natal
que passa
já não ergo
a minha taça,
por saber
que outros meninos
deitam fora
pães inteiros
e partem brinquedos
sem conta,,,
e o pior!
é que o fazem
pela vida fora.

já não ergo
a minha taça
por cada natal
que me surge,
porque a minha
alma, grita…
se insurge!
perante as inverdades
que acontecem
todos os dias
da semana,
sejam, domingo,
terça e até nas
“quintas”…
num desfile
de baixa categoria,
feito pela ditas
supertias…
quero eu dizer:
- por essas autênticas…
…pros…ti…tu…t(i)as!



eduardo roseira

(imagem: sapo.pt)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

...ignoro...



…ignoro
todos aqueles
cujos olhos
são as vozes/maldosas
dos outros!...

eduardo roseira


(imagem: sapo.pt)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

AQUI…*





                              Aos desempregados,
                              à “menina” Filomena
                              e a mim… (porque não?)

aqui…
atende-se
a desilusão
e o desencanto.
aqui…
ouve-se
o lamento
e o pranto.
aqui…
oferece-se
a esperança
e o alento.
aqui…
renova-se
a alegria
e a confiança.
aqui…
afasta-se
todo o desgosto,
receitando-se calma,
com o melhor sorriso
que temos na alma
e no rosto.

…porque…aqui…
neste rame-rame diário
atendemos vidas
presas ao calendário.

eduardo roseira

* Ecos de um posto de atendimento
da “Apresentação Quinzenal”, do
IEFP a que estão obrigados os
desempregados.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A GRAVATA DOS poetas...





a gravata cor-de-rosa
veste o político que nos goza
a gravata laranja
veste o euro-político
lá na “estranja”
a gravata encarnada
é a do político “berrante”
e de palavreado cansada

a gravata, seja de que cor,
não é para o poeta pôr,
pois o poeta…ah…o poeta
caga na gravata
e despe-se de preconceitos!!!
porque… poema…
não rima com gravata
porque…
o poema é do sonho a razão
o poema não segue eleitos
nem lhes é servidão.

mas atenção,
muita atenção!
o “ego-marketing” sem gravata
é crime merecedor de punição,
com severas penas.
não havendo uma única excepção,
nem mesmo para os poetas,
a quem a gravata
lhes esgana os poemas!!!


eduardo roseira

(imagem: sapo.pt)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

LÁGRIMAS...



lágrimas veludo
correm no leito
das minhas rugas

lágrimas do tudo
do nada
umas mágoa
outras preito
marcas da minha luta

lágrimas alegrias
outras sofridas
marcas de bons
e maus dias
na alma esculpidas

lágrimas pecado
ironia
humor
e as por um grande…
grande amor

lágrimas recordações
que guardo
de horas mágicas
e solidárias
lágrimas emoções
de cenas trágicas
e das horas contrárias

lágrimas paridas
lágrimas contidas
lágrimas sentidas
porque sofridas


eduardo roseira

(imagem: sapo.pt)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

NO LENÇOL



no lençol
marcas rugas
corpos suor
aqui e além
nítidos e minúsculos
arabescos
em esperma desenhados

de mãos dadas
o silêncio cansaço
de dois corpos
d(el)eitados
numa cama
ninho amor…
                      amor…
                                  amor…


eduardo roseira


(imagem:sapo.pt)

domingo, 3 de janeiro de 2010

INTIMIDADES



é nesta letra indecisa
que cruzo lentamente,
nó a nó,
oceanos de imaginário.

faço do papel o meu mar.
da caneta o meu navio.
ao leme – eu!
o meu destino
é ida sem volta.

através dos meus olhos/vigias,
o meu viver traça rumos
guiados pelo meu coração/bússola.

minhas poucas virtudes
são mar chão.
meus defeitos muitos,
mar encapelado.
vão construindo
as marés do meu existir.

a minha mente
é um oceano de ideias,
que controla
os meus modos/ondas
e minhas tempestades/manias.

… e assim vou navegando
os mares das minhas
intimidades.

eduardo roseira

(imagem:sapo.pt)

sábado, 2 de janeiro de 2010

2010 – ANO EUROPEU DA LUTA CONTRA A POBREZA - Notas & Comentários




1 - A União Europeia (U.E.), estabelece o limiar da pobreza em (60%) sessenta por cento da média do rendimento do país. No caso de Portugal o valor do patamar mínimo é de 406 euros mensais por pessoas.

(…e as Associações Patronais, ainda dizem que o aumento do Salário Mínimo Nacional de 450 para os 475 euros é elevado!?...O que é que se compra com 25 euros? Eles sabem? Eu dou só uma dica, é que na maioria dos casos, não chega para pagar o passe mensal do transporte que nos leva às suas empresas!...)



2 - A taxa de pobreza infantil em Portugal encontra-se nos (23%) vinte e três por cento. Os países nórdicos são os mais bem colocados, com cerca de (10%) dez por cento e os piores, com (34%) trinta e quatro por cento, são a Bulgária e a Roménia.

(…pergunto eu: Os romenos que andam por aí na pedincha, em tudo quanto é semáforo, portas de supermercados e outros mais locais…estão contabilizados onde? Na Roménia ou em Portugal?...cá por mim, como temos (2) dois milhões de pobres no nosso país, penso que os romenos devem estar integrados nessa parcela…)



3 – Diz também a U.E., que em 2009, (73%) setenta e três por cento dos portugueses tiveram dificuldades para pagar as suas contas quotidianas.

(…como eu, nem nenhum elemento da minha família, das minhas amizades e conhecimentos, respondemos a qualquer inquérito sobre tal tema, pela certa que a percentagem deve ser bem maior…)



Este ano de 2010, considerado como Ano Europeu da Luta Contra a Pobreza, vai ser de difícil combate contra a pobreza económica e questões sociais que lhe estão envolventes, combate esse que se torna ainda mais difícil, quando se encontra pela frente a pobreza de espírito dos nossos políticos. Aí a luta é quase impossível.



eduardo roseira

(imagem:sapo.pt)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O "CALDO" ENTORNADO



Tomando à letra o velho, mas sempre actual lema:

- “Mais vale um gosto na vida, do que alguns tostões na algibeira.” – Juntei os trocos e não fazendo contas à dita, não fosse arrepender-me, resolvi pegar na “patroa” e fazer o que de há muito nos esquecia, ou seja, ir deitar o ano fora, num dos muitos “reveillons” que se realizou na vizinha e orgulhosamente chamada Porto - Cidade Património Mundial.

Como é hábito nestas ocasiões, animação é coisa que não falta e há até, os que, devido a um “grão, a mais, na asa”, sobressaem dos outros. Motivo que não foi o de um certo “senhor” de cabelos grisalhos, aparentando cinquenta e poucos anos, vestido com fato de bom corte, acompanhado da esposa e de dois filhos, que estavam numa mesa próxima da minha. “Senhor” esse, ao qual vou chamar de a partir de agora, de Azevedo.

Azevedo, que desde que chegou ao baile, nada de alcoólico bebeu, ressalve-se, mas sobressaía sem grandes euforias, pela sua vivacidade e alegria, no que era acompanhado pela sua risonha esposa e pelos filhos.

Era, à primeira vista o protótipo da pessoa sem problemas e daqueles de quem dizemos:

“- Corre-te bem a vida!”

Dava mesmo gosto de ver. Metia inveja a sua alegria contagiante, e até pelo facto de sermos aproximadamente da mesma idade, disse para mim próprio e para a minha mulher: “- Gostava de ser como ele, sempre assim tão divertido!”

Com o decorrer da festa, já 2010 tinha algumas horas, e com o acumular de líquidos, a minha bexiga resolveu dar sinais de si e pedir para funcionar pela primeira vez neste jovem ano.

Fiz-lhe a vontade, que remédio...e ao entrar nos lavabos, empurrei a porta entreaberta de um dos “reservados” e...- ”Raio” de pontaria a minha!... – gritei para mim mesmo. Ficando de tal forma...com o que vi, que até perdi a vontade fosse para que “necessidade” fosse, com a surpresa e enorme decepção que apanhei!

Não por ser a primeira vez, que infelizmente, deparava com igual cenário, mas sim por ver o meu “ídolo” (?), deste baile de fim de ano a “entornar o caldo”!...

De joelhos, com as mãos sobre a sanita, estava, nem mais nem menos, o Azevedo a preparar o “caldo” para injectar nova dose de energias de alegria?!?!?!

Alegria contagiante, mas camuflada, por ser falsa!

- Porquê Azevedo? Desiludiste-me, pá!...

... e afinal, quantos Azevedos por aí andam a desiludir-nos, enganando-se a si próprios com falsas alegrias...



eduardo roseira

FELIZ 2010