sábado, 7 de novembro de 2009
20 ANOS SOBRE A QUEDA DO MURO DE BERLIM
- 0 dia 9 de Novembro, entre boas e más memórias
Há precisamente vinte anos, dia 9 de Novembro de 1989, estava eu “preso” no Hospital da Prelada no Porto, tendo apenas a “liberdade” condicionada, o poder-me deslocar na cadeira de rodas.
Tinha sido operado ao fémur dois dias antes, situação que deixa qualquer mortal física e moralmente em baixo e sem paciência para nada, até porque em situações como esta andamos meios zonzos, porque afectados com a medicação que ingerimos.
Nesse dia 9 fui alertado pelo meu companheiro de sempre, o rádio portátil, que me deu uma notícia que me fez esquecer onde estava e as próprias dores do pós operatório, “saltei” para a cadeira de rodas e tive que “namorar” o pessoal de enfermagem para que me deixassem ficar depois da dez na sala a ver a Rádio Televisão Portuguesa… o Muro de Berlim tinha caído.
No dia seguinte ligaram-me da redacção da Rádio Paralelo, de Ermesinde, onde na altura trabalhava, a pedirem-me a habitual crónica para o noticiário das 13 horas, dizendo que tinha que ser, mesmo sabendo que estava hospitalizado. Já não me lembro do teor da mesma, apenas fiquei com os dois estes dois poemas:
OS POETAS VENCERAM!
poeta é aquele
que voa nas asas do sonho.
poeta é aquele
que torna verdade,
fazendo do que parece irreal,
com esperança e resignação,
uma verdade fundamental!
irmão, tu que és poeta,
tal como eu,
agarra-te às minhas asas
e comigo anda voar.
voar p’rá liberdade…
anda!
agarra-te a elas
e comigo voa.
força!
solta as amarras
que te impuseram.
vá junta-te a outros
nossos irmãos
e sem medo
derruba esse muro
que te castra a imaginação.
fá-lo dizendo não aos mitos
e aos “outros”, deixa-lhes
a vergonha.
depois, diz bem alto,
libertando os teus abafados gritos:
- abaixo os muros!
- adeus vergonha!
- os poetas venceram!
VINTE E OITO ANOS
(1961 - entre a construção e a queda - 1989)
foi sofrimento!
calado…
foi consentimento!
recalcado…
havia marchas,
ao som de tambores.
durante vinte e oito anos
de mágoas, marcas
e imensos dissabores.
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A nove de Novembro de 1989, Berlim acordava para o mundo, o Muro caia. Noite dentro, entre lágrimas e abraço, os habitantes daquela cidade dividida ao longo de quarenta anos, festejaram o (re)encontro.
Ao som de palmas, seguidas de lufadas de ar negro, os “Trabis”, os pequenos carros alemães-democráticos com cores de rebuçado, invadiram as ruas do lado ocidental.
Dessa vez, ninguém ousou evocar as leis da protecção do meio ambiente. As garrafas de champanhe andavam de mão em mão. Era o princípio do fim de um longo pesadelo chamado Guerra-Fria.
A data não desperta, porém, boas memórias. Já em 1938, Berlim tinha acordado o mundo em nove de Novembro. A noite em que bandos de nazis iniciaram a sua “caça”, com espancamentos, prisões, destruição de lojas e pintura de paredes com a acusadora/denunciadora estrela de David e a frase “Não compres a Judeus.”. Era o primeiro passo para o Holocausto!
Uma tragédia que ficou conhecida na história, com o nome perversamente romântico de: “Noite de Cristal”.
Ironia das ironias, hoje festeja-se e bem, a Queda do Muro há vinte anos, a Nove de Novembro, mas ninguém refere o outro, nada romântico, nove de Novembro de há setenta e um anos.
eduardo roseira
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