Poucos sabiam que Barack Obama, o novo presidente dos Estados Unidos da América, se dedicara no passado à poesia. Estes dois poemas, Pop (Papá) e Underground (subterrâneo) foram publicados quando ele estudava na universidade em 1981. Na altura tinha 19 anos. O jornal em causa era o Feast. Os poemas foram divulgados nos EUA pelo jornal The New Yorker, que faz aqui uma crítica à poesia de Barack Obama.
O blog Casa dos Poetas publicou os poemas traduzidos para português com versões de Tiago Nené, que com a devida vénia, transpomos aqui para o nosso Pátio, precisamente logo após o discurso da Tomada de Posse do quadragéssimo quarto Presidente do Estados Unidos da América.
PAPÁ
Recostado na sua cadeira, uma cadeira larga e quebrada
E polvilhada com cinzas,
O papá passa os canais, toma outro
Cálice de Seagrams, simples, e pergunta
O que fazer comigo, um rapaz novo e verde
Que nem considera a
Falta de sentido do mundo, desde
Que as coisas se me tornaram fáceis.
Fixo os olhos na sua cara, um olhar
Que lhe afasta a testa;
Estou certo que ele não tem consciência dos seus
Negros olhos de água, estes que
Balançam em diferentes direcções,
E dos seus lentos e indesejados espasmos
Que demoram a desaparecer.
Oiço, aceno abertamente até tocar na sua pálida,
Camisola bege, gritando,
Gritando nos seus ouvidos, pendurados
Com lóbulos pesados; mas ele está a contar
A sua piada, e então pergunto-lhe por que
Parece tão infeliz, ao que me responde….
Mas eu não quero mais a porcaria da resposta, porque
Passou todo o tempo, e por baixo da
Minha cadeira eu tiro o espelho que guardei;
Eu rio-me, rio-me à gargalhada, o sangue escorre
Da sua cara até à minha, e cresce
Um pequeno lugar no meu cérebro, algo
Que deverá ser extirpado, como se fosse um
Caroço de melancia, com os
Dois dedos.
O papá toma outro cálice, simples,
Repara na pequena mancha de âmbar
Nos seus calções, igual à que eu tenho nos meus, e
Faz-me cheirar do seu cheiro, e este vem
Apenas de mim; ele passa os canais, recita um poema antigo
Que escreveu antes de a sua mãe falecer,
Levanta-se, grita, e pede
Um abraço, assim que eu encolho, com os meus
Braços mal conseguindo dar a volta
ao seu grosso e oleoso pescoço, e às suas costas largas; porque
Eu vejo a minha cara emoldurada na
Armação preta dos óculos do papá,
E descubro que ele também se ri.
SUBTERRÂNEO
Grutas debaixo de água
Cheias de macacos
Comendo figos.
Aproximo-me dos figos
Que os macacos
Comem, eles mastigam.
Os macacos guincham, mal
Lhes vejo os dentes, eles dançam,
Lançam-se à água que escorre,
Velhos, as peles secas,
Reflectem a luz no azul.
Barack Obama, presidente dos Estados Unidos.
(tradução de Tiago Nené)
O blog Casa dos Poetas publicou os poemas traduzidos para português com versões de Tiago Nené, que com a devida vénia, transpomos aqui para o nosso Pátio, precisamente logo após o discurso da Tomada de Posse do quadragéssimo quarto Presidente do Estados Unidos da América.
PAPÁ
Recostado na sua cadeira, uma cadeira larga e quebrada
E polvilhada com cinzas,
O papá passa os canais, toma outro
Cálice de Seagrams, simples, e pergunta
O que fazer comigo, um rapaz novo e verde
Que nem considera a
Falta de sentido do mundo, desde
Que as coisas se me tornaram fáceis.
Fixo os olhos na sua cara, um olhar
Que lhe afasta a testa;
Estou certo que ele não tem consciência dos seus
Negros olhos de água, estes que
Balançam em diferentes direcções,
E dos seus lentos e indesejados espasmos
Que demoram a desaparecer.
Oiço, aceno abertamente até tocar na sua pálida,
Camisola bege, gritando,
Gritando nos seus ouvidos, pendurados
Com lóbulos pesados; mas ele está a contar
A sua piada, e então pergunto-lhe por que
Parece tão infeliz, ao que me responde….
Mas eu não quero mais a porcaria da resposta, porque
Passou todo o tempo, e por baixo da
Minha cadeira eu tiro o espelho que guardei;
Eu rio-me, rio-me à gargalhada, o sangue escorre
Da sua cara até à minha, e cresce
Um pequeno lugar no meu cérebro, algo
Que deverá ser extirpado, como se fosse um
Caroço de melancia, com os
Dois dedos.
O papá toma outro cálice, simples,
Repara na pequena mancha de âmbar
Nos seus calções, igual à que eu tenho nos meus, e
Faz-me cheirar do seu cheiro, e este vem
Apenas de mim; ele passa os canais, recita um poema antigo
Que escreveu antes de a sua mãe falecer,
Levanta-se, grita, e pede
Um abraço, assim que eu encolho, com os meus
Braços mal conseguindo dar a volta
ao seu grosso e oleoso pescoço, e às suas costas largas; porque
Eu vejo a minha cara emoldurada na
Armação preta dos óculos do papá,
E descubro que ele também se ri.
SUBTERRÂNEO
Grutas debaixo de água
Cheias de macacos
Comendo figos.
Aproximo-me dos figos
Que os macacos
Comem, eles mastigam.
Os macacos guincham, mal
Lhes vejo os dentes, eles dançam,
Lançam-se à água que escorre,
Velhos, as peles secas,
Reflectem a luz no azul.
Barack Obama, presidente dos Estados Unidos.
(tradução de Tiago Nené)
Sem comentários:
Enviar um comentário