“Os olhos parados, estáticos, do poeta
contemplam extasiados a arte de ver tanta coisa em tão pouco espaço!”
Fernando Peixoto
Foi com esta ideia/frase que nasceu um poema de Fernando Peixoto, tinha ele 21 anos, estava em terras de Angola, a cumprir o “Serviço Militar Obrigatório”, e a “colaborar, também obrigatoriamente” numa Guerra Colonial, contra a qual era e se batia.
Quando, um dia, de passagem pela cidade de Luanda, a refrescar-se com uma cerveja “Cuca”, bem geladinha, na esplanada da “Paris-Versalhes”, numa mesa próximo da sua, se sentou uma pessoa que ele sempre admirou, quer pela postura como, muito especialmente, pela arte. Era nem mais, nem menos o Actor Rui de Carvalho, em digressão por terras portuguesa da então, África Ultramarina.
Tal como inicia o seu poema, o jovem Fernando, ficou com “Os olhos parados,…” e com certeza com todos os seus movimentos “…estáticos,…”. A sua primeira reacção foi a de se abeirar do Grande Actor Rui de Carvalho e “meter” conversa dizendo-lhe de toda a sua admiração e se possível falar da Arte que os unia, mas não o fez, não fosse o Rui de Carvalho, pensar que era mais um a pedir um autógrafo….Não, o Peixoto, queria muito mais do que isso e na incerteza da reacção do “Senhor Teatro”, quedou-se por continuar sentado no seu lugar e dizer ao papel tudo o que sentia nesse momento ao estar tão próximo do “monstro” do palco, e transmitiu o que os seus “…olhos…” embora “…parados…”, lhe “…deram força às mãos que escreveram poemas.” como este:
AO ACTOR RUI DE CARVALHO
Os olhos parados, estáticos, do poeta
contemplam extasiados a arte de ver tanta coisa em tão pouco espaço!
Às vezes não vê a consciência do drama
e transforma em comédia as lágrimas alheias
num sorriso amargo de secar a boca
porque as lágrimas às vezes também cansam
se a chorar correm os dias na cabeça do poeta.
Ah! Isto de querer ver para além da noite sem estrelas
traz-nos aos dentes uma raiva surda
de trincar o ar, de prender o vento,…
Os olhos parados, estáticos, do poeta,
contemplam extasiados a arte de ver tanta coisa em tão pouco espaço
e sente na alma o dever latente de sorrir ao menos
para quem nas tábuas ocupa o espaço duma Terra inteira
e sente nos braços o desejo intenso de abraçar o homem
que entrega ao poeta a imagem fiel do ignoto mundo.
E os olhos parados, estáticos, do poeta,
deram força às mãos que escreveram poemas.
Fernando Peixoto
22 de Junho de 1969
Angola, Luanda,
Esplanada da “Paris-Versalhes”
Mas o destino, cruza as vidas de uma forma tal, que passados trinta anos, em Outubro de 1999, considerado como o Ano Internacional do Idoso, juntou lado a lado, duas figuras públicas: - O Alto Comissário Nacional para a Terceira Idade e o então Presidente da Junta de Santa Marinha, freguesia de Vila Nova de Gaia. O primeiro era o Actor Rui de Carvalho e o Autarca era o Fernando Peixoto, que ao recebê-lo no Salão Nobre da Junta, num dos primeiros dias de Outubro, contou esta história, (como só ele o sabia fazer), leu e fez a oferta do poema.
Afinal, trinta anos é tão pouco tempo!
eduardo roseira
contemplam extasiados a arte de ver tanta coisa em tão pouco espaço!”
Fernando Peixoto
Foi com esta ideia/frase que nasceu um poema de Fernando Peixoto, tinha ele 21 anos, estava em terras de Angola, a cumprir o “Serviço Militar Obrigatório”, e a “colaborar, também obrigatoriamente” numa Guerra Colonial, contra a qual era e se batia.
Quando, um dia, de passagem pela cidade de Luanda, a refrescar-se com uma cerveja “Cuca”, bem geladinha, na esplanada da “Paris-Versalhes”, numa mesa próximo da sua, se sentou uma pessoa que ele sempre admirou, quer pela postura como, muito especialmente, pela arte. Era nem mais, nem menos o Actor Rui de Carvalho, em digressão por terras portuguesa da então, África Ultramarina.
Tal como inicia o seu poema, o jovem Fernando, ficou com “Os olhos parados,…” e com certeza com todos os seus movimentos “…estáticos,…”. A sua primeira reacção foi a de se abeirar do Grande Actor Rui de Carvalho e “meter” conversa dizendo-lhe de toda a sua admiração e se possível falar da Arte que os unia, mas não o fez, não fosse o Rui de Carvalho, pensar que era mais um a pedir um autógrafo….Não, o Peixoto, queria muito mais do que isso e na incerteza da reacção do “Senhor Teatro”, quedou-se por continuar sentado no seu lugar e dizer ao papel tudo o que sentia nesse momento ao estar tão próximo do “monstro” do palco, e transmitiu o que os seus “…olhos…” embora “…parados…”, lhe “…deram força às mãos que escreveram poemas.” como este:
AO ACTOR RUI DE CARVALHO
Os olhos parados, estáticos, do poeta
contemplam extasiados a arte de ver tanta coisa em tão pouco espaço!
Às vezes não vê a consciência do drama
e transforma em comédia as lágrimas alheias
num sorriso amargo de secar a boca
porque as lágrimas às vezes também cansam
se a chorar correm os dias na cabeça do poeta.
Ah! Isto de querer ver para além da noite sem estrelas
traz-nos aos dentes uma raiva surda
de trincar o ar, de prender o vento,…
Os olhos parados, estáticos, do poeta,
contemplam extasiados a arte de ver tanta coisa em tão pouco espaço
e sente na alma o dever latente de sorrir ao menos
para quem nas tábuas ocupa o espaço duma Terra inteira
e sente nos braços o desejo intenso de abraçar o homem
que entrega ao poeta a imagem fiel do ignoto mundo.
E os olhos parados, estáticos, do poeta,
deram força às mãos que escreveram poemas.
Fernando Peixoto
22 de Junho de 1969
Angola, Luanda,
Esplanada da “Paris-Versalhes”
Mas o destino, cruza as vidas de uma forma tal, que passados trinta anos, em Outubro de 1999, considerado como o Ano Internacional do Idoso, juntou lado a lado, duas figuras públicas: - O Alto Comissário Nacional para a Terceira Idade e o então Presidente da Junta de Santa Marinha, freguesia de Vila Nova de Gaia. O primeiro era o Actor Rui de Carvalho e o Autarca era o Fernando Peixoto, que ao recebê-lo no Salão Nobre da Junta, num dos primeiros dias de Outubro, contou esta história, (como só ele o sabia fazer), leu e fez a oferta do poema.
Afinal, trinta anos é tão pouco tempo!
eduardo roseira
2 comentários:
O Fernando era o poeta verdadeiramente POETA, daqueles raros, cujas palavras ensinam e consolam. O único que eu conheci que sabia ler as reticências e as convertia em palavras...
Que saudades dos seus incentivos encaminhadores.
RosaTeixeiraBastos
Fico orgulhoso de ter sido Amigo do Peixoto e verificar públicamente o quanto era capacitado para conseguir com que as suas palavras escritas falassem, se entranhassem e mexessem com todos os sentimentos em quem o ouvia ou lia.
Grande Peixoto, quanta Saudade.
Um abraço Amigo
AAAlmeida
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