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terça-feira, 21 de julho de 2009




canto a miguel torga,
o poeta da liberdade


“O universal é o local sem paredes.”

Miguel Torga

um metro e setenta e sete
tinha o poeta de altura
o corpo todo magreza
no olhar tristeza tão dura
punha oculta a beleza
não exibia candura
era assim o doutor adolfo
com aqueles que desde cedo
desenhou-se a vida dura
pro mundo foi miguel torga
gênio da literatura

seus hábitos trasmontanos
ele trouxe para o brasil
onde viveu alguns anos
sob os cuidados de um tio
mas atendendo à saudade
doída da aldeia natal
tratou de juntar-se ao povo
sofrido do seu portugal
torga adotou por nome
que é planta do chão agreste
e com a voz inconteste
gritou alto contra a fome
gritou contra a força do mal
disse não à censura
basta à ditadura
desafiou general

no entanto quem o bem canta
cedo perde a razão
o ditador se levanta
e dá-lhe por prêmio a prisão
aljube tem por destino
e por alimento água e pão
então riu-se todo o burguês
engordou de satisfação
vendo que o camponês
ficou longe do seu irmão


mas posto em liberdade
mais forte o poeta voltou
cantando a sua verdade
cantando as águas do douro
cantando as mágoas do tejo
cantando o correr do mondego
seu canto jamais se calou
nem quando perdeu a guerra
pra morte em câmara lenta
passado já dos noventa
se a mão da inimiga apanhou
adolfo correia rocha
miguel torga continuou
seu canto em toda parte
na boca de alguma gente
nos sonhos que sempre sonhou
de um mundo assim sem paredes
livre das fomes das sedes
não preso só aos limites
do mapa do seu portugal
um mundo de uma só língua
todos num único barco
sem comandante na proa
quer no brasil quer em goa
o mesmo sol o mesmo sal
em angola em moçambique
em são tomé guiné-bissau
no timor em cabo verde
também nos confins de macau
quem sonha não vê distância
tira a capa da arrogância
sonha um sonho universal

júlio saraiva (Brasil)
Poeta/Jornalista

1 comentário:

Domingos da Mota disse...

Caro Poeta,
caro amigo Júlio Saraiva,

Belo este seu poema em homenagem a um grande escritor.
E seja bem-vindo a este sítio (onde eu também sou convidado).

Domingos da Mota