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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

VIDA DE CÃO - crónica



O dia estava de Sol que parecia brasa e penso que talvez por efeitos do imenso calor que se fazia sentir, assisti a uma cena que passo a relatar:


- Um cão a ser posto para fora de um café, aos pontapés.
De rabo entre as pernas e aos latidos o pobre animal lá foi à sua vida.

Eu, quase fiquei raivoso com o que assisti e pensei com os meus botões que se esse cão falasse, pela certa que vos dirigiria palavras como estas:

“- Eu sou o…bem, não tenho nome nenhum. Por vezes chamam-me de rafeiro ou “jeco”, outras vezes, de vira-latas e vadio. Há quem diga até, que sou cão que não conhece o seu dono.
Sim! Realmente não conheço, pois não o tenho, o que um dia pensei ter, foi de férias e nunca mais o vi, e cá para nós, dispenso muito bem alguns outros “donos” como esse, e que por aí abundam. Porque esses são piores do que eu!
Ou seja, são donos que não (re)conhecem o seu cão!

Acreditem que não me queixo da vida que levo e por vezes até me dá vontade de rir, a bom rir, com certas coisas que ouço e vejo, como por exemplo esta:

- Aqui Há uns dias atrás, passou por mim um senhor muito bem vestido e a exalar um cheiro a perfume de marca, que ao ver-me com o pelo um pouco sujo e mal arranjado, me afastou dele com duas valentes biqueiradas, ao mesmo tempo que me apelidava de porco.
- Porco? A mim que até sou cão! – Realmente eu estava sujo, mas não cheirava mal, tinha um aspecto desarranjado é certo, mas eu não tenho direito a um ossito, quanto mais a usar perfume… para disfarçar os maus ododres, nem a usar roupas para esconder a sujidade, contudo garanto-vos que sempre que encontro um riacho ou poça de água limpa onde me possa lavar, não preciso de ninguém para me ajudar a fazê-lo.

Dizem que todos precisamos de um amigo e de um companheiro fiel para nos apoiar. Mas até a isso eu acho graça e por vezes interrogo-me sobre:

- Quem é que precisa mais de quem?
- Será o cão que precisa do Homem, ou este que precisa mais do chamado “fiel amigo”?

Sobre este assunto, permitam-me dar apenas um outro exemplo:
- O cão é companheiro fiel e constante dos cegos! Em contrapartida, o que é que se faz quando este fica cego?
Pura e simplesmente, porque passa de fiel a empecilho…
- ABATE-SE!!!!
E todos nós somos, dizem, seres com direito à vida.

Eu sei que também se diz, que uns são racionais e outros irracionais. Mas, se me dão licença, também disto eu me rio. Então para uns existe o “direito” à Eutanásia e para outros é pecado, ou pior, é crime.

Bem, deixando-me de filosofias caninas e passando à realidade, quero que fiquem bem assentes estes meus desejos:

- Não quero ser um cão com nome pomposo!
- Não quero ser um cãozinho de luxo que vive cercado de mimos e mordomias!
- Não quero ser um cão amestrado, que vai a concursos por meros caprichos e vaidades do seu donos!
-Não! Eu não quero ser nada disto!
- Quero sim, que me reconheçam como cão e não como objecto descartável!
- Quero continuar a ser o vadio, o vira-latas…, enfim tudo o que me quiserem chamar!...mas por muito incrível que vos possa parecer, pouco me importa que volte a ser escorraçado dos cafés, ou que os “dignos senhores” me cumprimentem (?) à biqueirada, porque quero continuar sem nome, mas LIVRE!!!


eduardo roseira

(imagem: sapo.pt)

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