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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

HOMEM MAU, HOMEM BOM



Enquanto aguardava no corredor da Pediatria do Hospital de São João do Porto, para no âmbito do meu espectáculo “Palavras Vivas”, poder fazer mais visitas aos pequenos que estavam nas enfermarias, e após ter estado a “contar poemas” na sala de convívio, ouço uma voz que me diz:
“- Olha, tens mais histórias para contar?” – era o Gaspar, figura franzina e infantilmente traquina – que me abordou e a quem respondi: “Tenho mais histórias, mas fica para outro dia, está bem?”
“- Oh, mas eu queria que me contasses a história do “Homem Mau”
Disse-lhe que já não havia o “Homem Mau”, pois agora só existia o “Homem Bom”.
De imediato, atirou um:
“- Ai é?...ele matou o homem mau?”…
… quase sem palavras, após um breve silêncio, lá respondi que o “Homem Bom” não matava ninguém, o “Homem Mau” é que tinha resolvido ir embora, farto de ninguém gostar dele.
Virando-me as costas, o pequeno Gaspar encolheu os ombros e disse-me:
“ – Tá bem…tchau…”

À minha mente veio-me o poema de António Gedeão, “Dia de Natal”, que começa assim:

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças…
……………………………….
……………………………….
……………………………….

Para mais adiante continuar:

…Mas a maior felicidade é a da gente pequena,
naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.

Cada menino
abre um olinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.

Ah!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus,
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
Reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas…………
……………………………….
………………………………..   
Porto, 15/12/2010
eduardo roseira
com excertos do poema “Dia de Natal”
de António Gedeão
  


2 comentários:

Unknown disse...

muito bom "amigo" cunhado
abraço

De Amor e de Terra disse...

...e a gente pequena sempre a surpreender-nos!

Bjs.
Maria Mamede