Não gosto do Pai Natal
porque a mim já não me ilude:
todas as prendas que traz
dão-me cabo da saúde.
Traz no saco, que carrega,
cada vez mais sofrimento
e deixa-me logo «à pega»
baixando-me o vencimento.
Com discursatas perversas,
mil ilusões repartidas
enche o saco de promessas
que nunca serão cumpridas.
Eu não quero dizer mal
mas temos gostos opostos:
peço prendas plo Natal
e ele dá-me mais impostos.
E mal entra o Ano Novo
logo me cheira e pressinto
que eu, que pertenço ao Povo,
vou ter de apertar o cinto.
Sobe a água, sobe a luz,
e os aumentos são bem fortes
e, para aumentar a cruz
sobem também os transportes.
É pior de cada vez
que olho esse velho gaiteiro:
Já sei que vai sobrar mês
quando acabar o dinheiro.
No País em que vivemos
(somos quase 10 milhões)
Ali-Babás... poucos temos,
mas temos muitos ladrões.
Por isso é que não me ilude
este velhote atrevido:
Pai Natal é Robin Hood,
mas Robin Hood ... invertido.
Fernando Peixoto
(imagem: sapo.pt)
1 comentário:
Caro Roseira, obrigada pela partilha deste post. Foi um prazer conhecer o teu blog. Deixo aqui o convite para uma visita ao ChavedaPoesia onde também está este poema de Fernando Peixoto, postado salvo erro, em 2007.
Com os melhores votos de Feliz Natal,
Sylvia Cohin
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