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domingo, 20 de fevereiro de 2011

LEILÃO DA LATA

  a Ana Briz

 

“O lixo é o riso dos mortos”,

in  Em Memória, Pedro Mexia.


I

Bairros da lata      vão acabar
e a bambochata      vai começar
      vão ladrar os gatos      miar os cães
      que mais valem cacos      que três vinténs

da velha lata      que já não presta
quem a arremata      faz uma festa
      carrossel da feira      prà mocidade      
      viva a chinfrineira      por caridade

panelas tachos      tachos panelas
fêmeas e machos      eles e elas
      vão jogar na rifa      do bailarico
      uma chafarica      num prédio rico

leilão da lata      famintos fartos
dizem da caca      cobras lagartos
      vem o leiloeiro      vende as barracas
      com todo o recheio      pulgas baratas


... vende com a droga do lavado lixo
o vício que engorda um homem num bicho
melga parasita quanto ela mais come
mais sede mais fome mais sangue o excita


                         II


Bairros da lata      vão acabar
e a bambochata      vai começar
      vão voar as ratas      do barracão
      presas pelas patas      dum gavião

leilão da lata       rende o casebre
até a gata      passa por lebre
      rei da compra-e-venda      do pardieiro
      faz uma vivenda      faz mais dinheiro






tão velha a lata      do charlatão
aristocrata      quer promoção
      chapa guarda-vento      ou guarda-lama
      arte movimento      carro de fama

leilão da caca      homens farrapos
montam sucata……‘montoam trapos
      anda cangalheiro      rasa o barraco
      saqueia o chiqueiro      saco por saco

... vende com a droga do lavado lixo
o vício que engorda um homem num bicho
melga parasita quanto ela mais come
mais sede mais fome mais sangue o excita


                       III


Leilão da lata      vai terminar
quando a barraca      for pelo ar
      pulam pelas matas      gatos e cães
      rastejam de gatas      filhos-das-mães

leilão da caca      vai terminar
coa velha lata      pra a reciclar
      morre o leiloeiro      e um cão polícia
      lambe-lhe o dinheiro      numa carícia

... bairros da lata      leilões da caca
e esta cantata      toada chata
      feita bambochata      dum festival
      têm de acabar      é a hora exacta

      ponto final.

Fernando Pinto Ribeiro - (Guarda-1928/Lisboa-2009) 
In: Antologia “Poetas de Sempre”
      Ed. Cidade Berço, Guimarães, 2005    


http://fernandopintoribeiro.no.comunidades.net/index.php


 Imagem: sapo.pt

1 comentário:

Natália Carvalho disse...

esta manhã fui em busca de poemas ainda por mim não lidos!..
Li o pema bairro da lata;o qual muito gostei,e digo que lhes dou os parabens pela sua ironia.
É tudo bairros de lata,ricos e pobres.Tem razã continue a desnudar toda esta lata.O Roseira cá está para lançar.