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domingo, 5 de abril de 2009

UM POEMA DE JULIO SARAIVA



















BREVE RAIO X DO POETA

para Domingos da Mota e Eduardo Roseira, numa roda d'amigos - consagro






o poeta não é o samba
o poeta não é o fado
o poeta não é a zoeira
o poeta não é o enfado
o poeta não é a verdade
o poeta é foda
o poeta é fato
pé de sapato esquecido
resto de dicionário
palavra fora de uso
o poeta não faz seu destino
e nem fará a revolução
o poeta é um filho da puta
o poeta é um serviçal
o poeta é uma sentinela
o poeta não é porra nenhuma
o poeta é um sacripanta
violador de meninas
tocador de violoncelo numa
sexta-feira de chumbo qualquer
o poeta é a puta que me pariu
por detrás dos muros da morte
o poeta não é bravo e nem forte
nem um mar de velas pandas
o poeta não é bandeira
o poeta não é pessoa
é só sujeitinho à toa
que cai no meio da rua
o poeta é um viado
pecado capital da palavra
é um animal sem sorriso
o poeta é o funcionário público
que diz pois-não-obrigado
o poeta subverte à ordem
o poeta cospe no chão
o poeta caga na rússia
e declara amor ao japão
o poeta adivinha a lua
o poeta vai ao comício
o poeta foge do hospício
o poeta é bicho de circo
o poeta morre de enfarto
aos pés da primeira mulher
sem que o jornal se apoquente
o poeta...
de uma vez por todas
sejamos sinceros
: o poeta ontem ia bem - obrigado




Júlio Saraiva (Brasil)
In: http://www.escritartes.com/


Fotografia extraida com a devida vénia do site: escritartes

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