Venham + 5

Pesquisar neste blogue

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

CONTAS À MODA DO pORTO...



… já sei, está neste momento a pensar que eu me enganei e provoquei uma gralha no título colocando no mesmo um “p” minúsculo, quando todas as outras letras são todas maiúsculas, mas engana-se, pois não é gralha ou engano no processamento de texto que acontece na maior parte das vezes, por causa da rapidez com que teclamos o mesmo.


Fique sabendo que é mesmo assim, que resolvi escrever, ou seja, a palavra PORTO com “p” minúsculo, isto porque ao contrário daquilo que muita gente pensa é errado dizer-se: “Contas à moda do Porto”, referindo-se à “Mui Nobre e sempre Leal cidade Invicta”.

Na verdade, este termo era aplicado há muitos anos, quando um navio ao fim de largos meses no mar, atracava a um porto e assim que era colocada a prancha para o cais, logo começavam a descer por ela os impacientes marinheiros, que na sua sofreguidão se dirigiam para o mundo proibido, durante meses e meses no mar, a caminho das tabernas onde encontravam o delírio de mulheres sonhadas noite após noite de vigília nocturna; das rixas sem motivo e das apetecidas bebidas, ingeridas em um ou dois rápidos tragos, tudo isto com um sabor de exotismo e diferença das paragens por onde o seu barco aportava ao longo da viagem.

Depois, nos ruidosos e escuros bares e tabernas, os recem desembarcados, mastigavam uma refeição saborosa, pelo menos, porque isenta do baloiçar do navio, e emborcavam copo atrás de copo de cerveja ou vinho, o que aliás pouco importava, desde que de álcool se tratasse.

Entretanto, era chegada a altura do pagamento, e cada um deles atirava um “amarrotado” de notas ou um punhado de moedas, para o meio da mesa ou cimo do balcão, em quantias certas relativas à despesa de cada um. Sem que de qualquer deles, houvesse um gesto que fosse de gentilmente se oferecer a suportar o consumo de um dos amigos ou companheiros de bordo.

É que contas são contas e entre os marinheiros existia uma lei tácita, a que todos obedeciam sem quaisquer contemplações, que era:

- Contas à moda do porto!!!

E tal como referi no início desta crónica, quando escrevi a palavra porto com “p” minúsculo, estava correcto, só que há pessoas que ignorando esta tradição entre os marítimos, penso que de todo o mundo, digam que é um hábito austero que é originário da cidade do Porto e escrevam, digam e logo pensem com um “P” maiúsculo porto, que o é, mas sim um dos muitos que existem por esses mares que são cruzados por um sem número de navios.

A finalizar, e para que se desfaça o engano aqui fica o registo, para que se saiba também que no mundo, há pouca gente com franqueza e generosidade igual à dos tripeiros…(1)



(1) - Designação que se dá aos naturais da cidade do Porto.


eduardo roseira
(baseado no texto “Contas à Moda do Porto”,
de António Manuel Couto Viana)


(imagem: sapo.pt)

Sem comentários: